domingo, 6 de dezembro de 2020

Peso

"Ai de mim! Que vazio horrível sinto em meu peito! Quantas vezes digo a mim mesmo: "Se pudesses uma vez, ao menos uma vez, apertá-la contra o coração, esse vazio seria desfeito." (Goethe)

E de repente tudo despenca em cima de mim, uma vez mais. As pessoas sempre me dizem que eu devo dividir as obrigações com o pessoal da igreja. Eu tento. Não gosto de fazer isso porque vejo o descaso de todos com as coisas sagradas, mas tentei. O resultado? O silêncio e as respostas negativas, em cima da hora, de que não poderão ajudar, que eu vou precisar dar um jeito de me virar em dois ou três para que as coisas saiam dignas.

Amanhã é dia de Primeira Comunhão, com uma missa a mais na comunidade. Tem toalha pra passar, detalhes da credência pra organizar, uma equipe pra liderar, lanche pra vender... Mas o que eu tinha dividido, voltou tudo pra mim. E agora sinto um peso grande, de uma responsabilidade que não é só minha, caindo todinho em cima de mim. E não é a primeira vez. Eu não posso, não vou e nem quero, abandonar, mas me sinto triste porque sei que, desse jeito, as coisas não sairão tão bonitas como deveriam. A dignidade, a atenção aos detalhes, tudo isso corre risco porque uma mente só pode não conseguir dar atenção a tudo isso sozinha. Primeiro peso. 

Depois disso me vem uma sensação, também desgastante, da minha insuficiência, de total incapacidade, de fazer todas as coisas darem certo desse jeito ou, pior ainda, de conseguir ser alguém. Aqui a situação é completamente diferente.

Enquanto eu coloco quem amo num  pedestal, no mais alto grau de carinho que há em mim, percebo que, para os outros, não passo de um estranho qualquer, tão importante quanto aquele desconhecido que trombou com a gente na feira e depois sumiu na multidão. E isso por causa de uma foto, um stories que apareceu e depois sumiu, mas que possui tanto significado que eu não conseguiria dizer, por incapacidade e por estar abalado demais pra conseguir fazer mais do que me lamentar tristemente, do que chorar calado no meu canto, prostrado sob o peso de minhas obrigações e expectativas. 

Só queria ser importante pra ele, que ele percebesse o quanto preciso dele aqui comigo, do quanto preciso de ajuda. Mas, em se tratando dos outros, eu sou invisível, apenas se lembram de mim quando precisam, do contrário, quando eu preciso, fico jogado à minha própria sorte. E eu agora, que farei, que patrono ou que amigo invocarei?

Essas coisas juntas se tornam um peso grande demais, e meu corpo entra em torpor, um gosto ruim na boca, as pálpebras pesadas... Eu quero dormir, apagar, esquecer dessas coisas, dessas pessoas. Queria conseguir me amar, me sentir suficiente, me sentir o bastante para cumprir os meus objetivos e, mais ainda, para conseguir viver sem sentir a constante necessidade de alguém, de amar, mesmo sem ser amado.

"Este vazio de amor todos os dias: a cabeça pesada ao meio-dia, a boca amarga, um cheiro de sono e solidão nos cabelos..." (Caio Fernando de Abreu)

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