sábado, 5 de dezembro de 2020

Resenha - OXYGEN

"Um homem com o coração vazio, um livro em branco, a este coração agonizante você trouxe vida, como a luz no meio do inverno."

O comecinho da música tema dessa obra é mais do que capaz de mostrar bem o que acontece com um coração triste que finalmente conhece o calor do amor. Apenas o primeiro episódio já foi suficiente pra me fazer suspirar, ficar contente com o coração quentinho e, quem sabe, até mesmo voltar a crer um pouco na beleza de um amor puro, inocente. 

Um homem calado, que tem muitos pesadelos e que não gosta da multidão, assustado por fantasmas do passado e que finalmente encontra, num sorriso doce e num gesto gentil de um desconhecido, o que precisava para dar um sentido a sua vida, o que precisava para descobrir o que é o amor.

Oxygen conta a história de Solo e Gui, baseada numa novel homônima, sendo o primeiro, calouro na universidade, um rapaz sério e fechado, até mesmo com os seus colegas de banda. Ele é de uma família rica, mas problemas do passado o tornaram desiludido, como se andasse por aí sem o controle de sua vida. Tem tudo mas não consegue sorrir. Um dia, após uma noite sem dormir por causa de constantes pesadelos, ele sai pelas ruas e acaba parando num café, quase fechando, onde conhece Gui, um lindo barista que, embora também tenha um passado difícil, tem um doce sorriso, e que o oferece uma caneca de leite quente, dizendo que assim será mais fácil para ele conseguir dormir. Esse primeiro encontro é suficiente pra traçar o destino de ambos, que descobrirão um intenso e belo amor entre eles.

Solo Siwarokin (Nut Supanut) é herdeiro de uma grande empresa, mas não se dá bem com seu pai, que o trata como um de seus funcionários, treinando-o para sucedê-lo nos negócios, chegando ao extremo de colocar funcionários atrás dele para que não faça nada que saia desse objetivo. Essa frieza no relacionamento deles, somada ao fato de que traçaram um futuro para ele sem que o consultassem, fez com que ele se tornasse um rapaz de difícil compreensão. Ele é talentoso com a música, e tem uma banda, mas é distante e quase incapaz de sorrir, pois não consegue esquecer o passado e nem o fato de que não poderá escrever o próprio futuro.

Gui Jirayu (Petch Chanapoom, a coisinha mais linda desse mundo) é um garoto gentil que desde cedo precisou se virar para viver. Cresceu num orfanato, tendo a diretora como uma verdadeira mãe, sendo ela a única figura de carinho em sua vida. Foi o único de seus amigos a não ser adotado, ficando no orfanato até ter idade suficiente para trabalhar e conseguir entrar na faculdade. Apesar desse passado ele é doce e prestativo, embora também sério, mas ainda tem um sorriso doce que, junto com a sua gentileza, conquista Solo no primeiro encontro. 

Além do casal principal nós temos Kao e Phu, baseados na novel Nitrogen. Kao (Boss Thanabat, de Cofee Prince Thai) é amigo de Solo e faz parte da mesma banda que ele. É um garoto levado, atrevido e muito curioso que se apaixona por Phu (Phu Phubet), primo de Solo, depois de uma confusão com uma gangue que tentava assaltar o rapaz. Enquanto Kao é brincalhão o tempo todo Phu é calado e muito, muito sério. O pobrezinho precisa correr muito atrás dele pra finalmente conseguir ver um lado mais doce do rapaz. Isso porque ele também tem uma relação conflituosa com o passado e prefere manter as pessoas afastadas. Kao, no entanto, acaba se tornando o seu "coelhinho", apelido que Phu dá a ele por ser tão fofo e inquieto e tempo todo. 

O último núcleo é um quadrilátero amoroso. Depois de visitar a cafeteria onde Gui trabalha, o Dr. Petch (Kun Kunchanuj, de SOTUS S e U-Prince) se apaixona por Khim (Natty Thanyanan) barista e amiga de Gui, uma fujoshi de carteirinha que adora shippar os clientes, tirando fotos deles e postando na internet. Acontece que Khim começa a shippar o Petch com o Dr. Perth (Yuuki Durongsang), seu colega de trabalho que sempre vai até a cafeteria com ele e que, por sua vez, gosta do amigo. O triângulo amoroso seria suficiente se não tivéssemos ainda Khem (Fourwheels), irmão de Khim, que depois de um tempo acaba indo trabalhar na cafeteria também e começa a gostar do Dr. Petch. Aí tá formada a confusão: Petch finge ser gay pra se aproximar de Khim e pedir conselhos a ela, tenta usar Perth como namorado falso e, como ele não concorda, parte pra cima de Khem, que acaba se iludindo. 

Solo e Gui me conquistaram desde o começo. A construção de personalidades simples, sem afetação exagerada, é de uma beleza tão cativante. Não é preciso fazer barulho, ser colorido demais, para ser belo, aliás, a beleza do amor está nos pequenos gestos, num sorriso que acalma, num toque leve no cabelo que diz "eu estou aqui por você" ou uma companhia numa noite difícil de chuva em que é tão difícil pegar no sono. 

A primeira coisa que me encantou foi o jeito fofo do Solo mostrar que não nega o quanto está apaixonado, ele sorri com ternura, os olhos brilham de admiração e dizem em silêncio que ele quer a companhia do veterano pra sempre, que sem o carinho e a doçura que fizeram ele dar ao calouro aquele copo de leite morno ele não poderá mais dormir em paz. Gui deu a ele a tranquilidade que faltava num coração agitado e machucado. O veterano que trabalha no café e confeitaria é sério mas está sempre sendo atencioso e preocupado em cuidar e ver o outro bem, feliz. É preciso muita delicadeza para ver nos olhos de alguém o quanto essa pessoa sofre e do que ela precisa pra se aquecer: um gesto de carinho que possa trazer calor ao corpo e ao coração. 

Quem é que, em sã consciência, não deseja algo assim? Quem é que nunca desejou um amor perfeito, nem que fosse para satisfazer uma tristeza daquelas que nos fazem ver o mundo cinza? Não é de se espantar que ambos se tornaram a razão da existência um para o outro, sem esse amor já não podiam mais respirar, não podiam viver sem seu oxigênio. E isso é o amor, não a dependência, mas aquilo que traz sentido, aquilo que torna tudo colorido mais uma vez. E também é calmo e compassado como a própria respiração, que leva vida a todos os órgãos e mantém o corpo em movimento, fazendo a vida avançar mais uma vez, mesmo quando a noite chuvosa de pesadelos parecia não ter mais fim. 

Khao e Phu também são muito lindinhos. Aos poucos o coelhinho vai quebrando o escudo do veterano e encontrando um espacinho em seu coração. Phu vai se deixando levar também, no princípio sem entender direito mas depois vendo que, de todas as pessoas, só Kao pode ter um lugar especial em sua vida.

E a série segue assim, leve, mesmo tratando temas importantes, como abandono, morte de entes queridos e a construção do próprio futuro, apesar da vontade de outros. É a jornada de descoberta da própria vida. A narrativa é divertida, confortável, e é como se a todo momento a história te abraçasse. Não é preciso ter medo, a gente sabe que tudo vai ficar bem. 

A produção não é a melhor que vimos nesse ano. Os errinhos de continuidade aqui e ali são muitos e chegam a incomodar de vez em quando e, embora eu os ame de paixão, colocar dois atores sem experiência em papéis com tanta profundidade emocional pode decepcionar algumas pessoas. Eu já gostei bastante e me apaixonei perdidamente pelo Petch, a quem sigo fielmente no Youtube agora. O andamento pode incomodar um pouco também, dando a impressão de que nada de muito importante está acontecendo, mas isso pode ser tanto um defeito da direção quanto um artifício proposital, para mostrar que as coisas evoluem sim lentamente, particularmente eu prefiro a segunda opção.  A trilha sonora não tem muita coisa pra mostrar, com exceção da música tema, My Oxygen, cantada pelo Supanut (Solo) que é simplesmente uma das melhores músicas do ano, sem sombra de dúvidas. 

Toda essa atmosfera faz de Oxygen uma das melhores séries do ano, para mim, ficando atrás só de I Told Sunset About You. A delicadeza, o amor puro, a simplicidade, é isso que precisava um ano em que tudo parecia dar errado, onde todas as pessoas estavam saturadas de tragédias e pandemias. Oxygen veio como o ar fresco que precisávamos para parar um pouco e admirar a beleza, seja uma bela paisagem ou de um pequeno gesto de carinho, como oferecer uma xícara de leite quente a um homem com pesadelos.

Nota: 10/10

Nenhum comentário:

Postar um comentário