quinta-feira, 14 de julho de 2022

Aforismos

É possível que alguém devolva o brilho no olhar? É possível que alguém possa dar significado a uma vida sem sentido? É possível que um olhar mude tudo? 

Ando por aí, aparentemente sem rumo porque não sei onde posso encontrá-lo, na janela do prédio em frente, do outro lado da plataforma do trem? É um pouco de romantismo esperar achar o amor numa casualidade pura e simples, penso que ele vem mais de uma escolha consciente de amar e se doar, do que do acaso. Posso estar errado, minhas experiências mostram bem que eu não tenho discernimento suficiente pra dizer como as coisas são exatamente, estou meio que no escuro, as apalpadelas. Mas isso é parte do processo de crescimento e conhecimento da realidade, não só física quanto psicológica e até cultural que me cerca. 

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Sempre que tomo uma dose maior de remédios pra dormir acabo falando demais, no entanto, trata-se sempre de impulsos que eu costumeiramente fico refreando e que, naquele momento sob o charme da minha dopada candura eu não consigo filtrar. Paciência. Muitas vezes falo mais do que diria se pudesse escolher, aliás, tenho deixado de dizer muita coisa, pesando melhor o que vale ou não a pena ser dito. A prudência no falar e no que reter daquilo que ouvimos deve ser um exercício constante pro amadurecimento e pro crescimento do senso de proporções e senso da realidade. 

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Mais um dilema entre ver a beleza inalcançável e, ao olhar para mim mesmo num reflexo, perceber o imenso abismo entre nós. Insuperável, nem mesmo passível de uma melhora paliativa, é uma diferença objetiva e brutalmente irreversível. A percepção dessa verdade atravessa meu coração como aço frio, e essa frialdade congela meu olhar, não me permitindo enxergar nenhuma solução, porque não há nada além da aceitação, mas como aceitar algo tão repulsivo que merecia ser exterminado sem que pensassem duas vezes? 

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Sonho

Queria acordar pela manhã, o sol iluminando o quarto, me levantar rapidamente e fazer os cuidados matinais de skincare, depois seguir para algumas sessões de fotos, com conceitos diversos, locações belas e claras, tema descontraído, depois dentro do estúdio, conceito social, sério, elegante. No fim da tarde um passeio rápido pelo shopping, algumas porções de shabu e soju, sorrisos. Depois ir pra casa, ver a reação das pessoas aos pequenos contatos durante o dia, um stories no perfil de um colega enquanto arrumávamos o cabelo, uma piada durante a maquiagem. 

É um sonho, mas parece muito superficial. Ao mesmo tempo que eu quero me esforçar em conhecer, compreender, me abrir a possibilidade universal do conhecimento eu quero esse contato com outro. Superficial e verdadeiro, é uma tensão. Eu vivo de tensões. 

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Ainda nem chegou o dia e eu já quero morrer ao invés de precisar sair da cama e ver as pessoas. A música alta, os sorrisos, a conversa, meu estômago embrulha só de imaginar, e minha vontade é de afundar ainda mais nas cobertas, deixando apenas a música baixinha, longe de todos, longe de tudo, a espera da morte, de um fim, de qualquer coisa que não seja uma multidão.

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