segunda-feira, 4 de julho de 2022

Por odiar

Sinto-me terrivelmente abatido pela discussão de ontem, ainda me afeta profundamente tanto a situação já cansativa quanto a minha explosão. Tenho estado triste e tive de fingir um sorriso hoje durante todo o dia, mesmo sabendo que eu não sou muito bom nisso e que provavelmente todos perceberam que eu não estava bem. 

Ainda sinto revolta em meu peito, e o rancor tem se mostrado uma névoa densa difícil de se dissipar, ela me turva a visão e eu me vejo refém do ar venenoso que respiro. Continuo pensando em coisas ruins, me envergonho de dizer que o desejo de vingança macula meu peito. Como Santa Rita eu chego a desejar a morte que possa evitar outros tantos pecados, mas sei bem que minha alma não é nobre como a dela e que isso ser motivado justamente pelo meu desejo de vingança. Que Ela interceda por mim nesses dias e me ajude a ver com clareza novamente o caminho da justiça. 

Não quero fazer nada, sinto um peso horrível em minhas costas e, mesmo sem nenhum remédio, poderia dormir por dias só pra ver desaparecer todo esse sentimento ruim do meu coração. Não quero ver nada e nem falar com ninguém. Ela despertou o que há de pior em mim, e agora eu não consigo sequer imaginar um mundo em que eu seja minimamente feliz sem que ela esteja, pelo menos, há milhares de quilômetros de mim ou morta e, além de odiá-la, eu me odeio por odiá-la. 

Entendo agora o significado das cinzas no Dia da Ira, também me sinto reduzido à nada. 

X

A pobre figura estende sua mão em direção a fera, seus olhares se cruzam e eles se fitam, cada um observando aquele universo que há no olhar do outro. Ele pensa que assim conseguirá se aproximar e acalmar aquela que ruge enfurecida, mas é tudo em vão. A pantera se lança sobre ele e o esmaga com suas patas, cravando fundo as suas presas lhe rasgando a carne, impiedosa. 

E é apenas isso. Dizem que esse é um dos muitos finais possíveis mas, pelo que observo do mundo, o final é sempre ingrato, e aquilo que criamos em nossas mentes acaba por morrer e se desfazer. É assim para todos nós, terminamos podres e alimentando os vermes da terra e nossos sonhos esquecidos como se nunca tivessem existido. E talvez nunca tenham mesmo, sonhos são apenas ilusões, e se desfazem como a imagem se perde no reflexo da água que se agita. 

É bonito não é? Os sonhos dos jovens, as conquistas daqueles que não têm escrúpulos, as perguntas daqueles que querem conhecer. É, tudo isso tem sua beleza. Mas no fim jogam um punhado de terra sobre você e acabou. 

É uma perspectiva limitada, finita e imperfeita. Horrível na verdade. Não fosse uma porção imortal disso tudo poderíamos dizer que o fim é esse monte de terra em cima de um cadáver. Mas esse não é o fim, e na verdade não há fim, já que uma única alma imortal dura mais que a humanidade inteira. Mas por qual razão eu não consigo achar isso reconfortante?

Aquele que entre bestas e panteras sobrevive já não se distingue a si mesmo como outro coisa senão fera. No fim de tudo, antes da terra, a única que vence é a ingrata pantera.

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