sábado, 9 de julho de 2022

Nessa vida

Ele estaria me esperando e me recepcionaria com um abraço forte e apertado. Como é maior do que eu, seus ombros largos envolveriam os meus, e eu esconderia o meu rosto no seu peito, enquanto, respirando fundo sentia o seu perfume. Suas mãos desajeitadas as minhas costas, firmes, e eu tímido me esquecendo de todas as pessoas ao redor, a música alta já distante e apenas um burburinho ao fundo, posso claramente ouvir as batidas do seu coração e a sua respiração no alto da minha cabeça. Não há mais ninguém no mundo, apenas nós dois e a brisa leve ao nosso redor. 

Me afastei lentamente, enquanto ouvia o som ficar mais alto e as luzes do bar me fizeram notar que estávamos em público e que tinha algumas pessoas ao nosso redor, e eu sorri quando vi o seu sorriso de orelha a orelha, enquanto ele passava a mão por minhas costas e me conduzia até os seus amigos. 

Bom, agora estou de volta ao meu quarto, e o único som é o da música que eu mesmo coloquei. As imagens que vi não passaram de um brevíssimo devaneio que tive enquanto vi uma foto dele no Instagram. 

Esse é um dos muitos finais possíveis, a possibilidade universal diz que isso poderia ter acontecido, mas não aconteceu e eu sei que a atual linha causal em que me encontro não vai permitir que isso aconteça. Então isso é tudo que eu tenho, um breve divagar até retornar a realidade, fria e solitária, de uma sexta à noite, sem abraços e sem batidas do coração, sem a presença que faz silenciar, sem amor e, pra ser sincero, sem sonhos também. 

Acordei, uma noite depois desse breve devaneio, e a amplitude térmica fez cair uns dez graus durante as últimas horas. Meio sonolento eu me virei e estiquei o braço pro lado vazio da cama, abri um pouco os olhos e percebi a imensidão daquele vazio, muito além da cama. Os homens com quem falava nos aplicativos de encontro todos se foram, até mesmo aqueles que eu encontrei mais de uma vez, e agora eu estava ali, ainda com sono e com uma súbita noção de mim mesmo, um suspiro longo antes de me virar novamente, olhar os raios tímidos de sol por entre as cortinas verdes do meu quarto e então me encolhi, colocando os braços ao redor das pernas e me abraçando, a única coisa que eu podia fazer naquele momento.

Até mesmo a música havia acabado, e eu só ouvia o vento batendo forte e a minha própria respiração. E voltei a dormir, com o coração vazio, e certo de que esse vazio iria continuar quando eu acordasse. E cá estou eu, na penumbra esverdeada, com a luz do computador incomodando, e os braços ainda sentindo um vazio, como se eles esperassem alguém que pudessem abraçar. Por outro lado, no entanto, não é o que minha mente diz, já que ela percebe que é melhor assim, sem ninguém para me incomodar ou fazer sofrer. E me encontro então nessa tensão, entre uma solidão que se mostra até fisicamente nos meus músculos e no querer continuar só, na descrença total do outro, na completa desesperança de achar alguém nessa vida. 

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