sábado, 30 de julho de 2022

Dessa escuridão

É uma noite de sábado bastante melancólica, e a cidade está em polvorosa, parece que todos estão animados para conversar e sorrir a noite toda. Eu, no entanto, não saí da cama o dia inteiro, não consegui encontrar nada que fizesse valer a pena de me levantar. Já rodei e fiquei em várias posições, já fechei os olhos e me concentrei na música, no meu corpo, na voz do meu professor, mesmo assim nada adiantou, e agora a noite eu mergulhei ainda mais fundo numa profunda tristeza, o desânimo como que recobre cada fibra do meu corpo, infestando minha carne até o tutano.

Mas enquanto todos estão ao redor de uma mesa de bar, ouvindo sertanejo e bebendo cerveja feita de xarope de malte, eu estou num beco escuro e úmido, perdido entre pensamentos sem sentido e o som distante reverberando em eco no meu vazio.  

Eu acho que queria estar lá fora, bebendo e contando histórias, mas ao mesmo tempo eu não queria, eu só queria dormir, adormecer tão profundamente que nunca mais tornasse a acordar, que nunca mais visse a luz, queria abraçar de vez essa escuridão que volta e meia aparece no meu coração. Hoje, se olho para dentro de mim tudo o que vejo são trevas, um imenso vazio, e o pior é que eu nem mesmo consigo dizer o que é que falta em mim. 

Tudo que consigo fazer é balbuciar, como uma criança irritante, sem saber o que quer mas incomodado com tudo mesmo assim. Até a luz da tela machuca meus olhos, a escuridão do meu peito é como a penumbra do meu quarto, ou seria o contrário? Eu sei que isso revela uma baixeza de espírito tremenda, pensar de modo simbólico desse modo, fazendo um dos símbolos naturais básicos, a escuridão, um reflexo dos meus sentimentos, da minha percepção imediata, mas é apenas isso que eu tenho essa noite. 

Em algum lugar grandes mentes discutem propostas elevadas, e eu admito que não entendi tudo o que me disseram nas últimas aulas, mas eu já estou habituado ao estado de dúvida, e não me incomodo mais, pelo contrário, reconheço que isso é apenas a estrutura mesma da realidade. Mas eu não consigo deixar de me perguntar se a vida é apenas isso, essa desilusão recorrente, histórias que nunca vão acontecer... E eu mesmo respondo que isso já é alguma coisa, as histórias acontecem, e estão acontecendo no momento mesmo que eu as vejo em minha imaginação e enquanto elas constroem a minha inteligência. 

No entanto, mesmo assim, se olho para dentro de mim, ainda vejo um enorme vazio a ser preenchido e eu nem mesmo sei o que posso colocar aqui. 

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