segunda-feira, 1 de agosto de 2022

Vaidade

Algumas pessoas, sei que com a melhor das intenções, sempre dizem que eu não devo desistir, que em algum momento a vida irá mudar, que as coisas vão melhorar. Eu não consigo ver isso de outro modo a não que elas estão, ao mentir para si mesmas, mentindo para mim também. Elas precisam dessa mentira conveniente porque lhes dói ver que a realidade é outra: não há nada que indique que a vida vá mudar, antes disso, ela pode até mudar, mas é para pior. 

As coisas não melhoram simplesmente porque sim, elas não dão uma guinada de 180° sem nenhuma razão, e pode dar, mas isso não significa que ao girar completamente as coisas vão ser melhores, quase sempre são apenas diferentes, mas nunca melhores. 

Isso porque essa tendência ao desastre é a estrutura mesma da realidade que, apoiando-se num fundo de permanência, constantemente se transforma em novas e mais requintadas formas de nos trazer o caos e a completa desesperança. 

Eu não consigo ver a vida de outro modo além de uma sucessão de esforços inúteis, de uma luta cuja final já conhecemos mas que ainda assim somos obrigados a lutar. A pessoa vive, busca, se esforça durante décadas até que sua pele reflita os anos sob o sol e, ao fim de tudo, nos resta apenas um punhado de terra em cima do caixão. Me parece que essa é a única resposta que recebemos. 

Até que levantei um pouco mais animado hoje, cantei enquanto tomava banho, mas logo que cheguei de novo no quarto e peguei um livro para ler eu senti como se o desânimo fosse aplicado em minhas veias, ele começou a circular pelo meu corpo e aos poucos meus sentidos foram ficando nublados. A força de meus braços minguou, meus olhos passaram rapidamente por um artigo de três páginas sem que uma só palavra ficasse. A música entrou por meus ouvidos e eu senti o torpor aumentar. Hoje não será diferente de ontem... E os outros olham para mim esperando que eu consiga reagir de algum modo, mas como? Eu só quero ficar aqui, deitado, e esperar isso passar.

Estou cansado de ver coisas na internet, a quantidade de informações que me deixa perdido, os belos rostos que me deixam deprimido, os tutoriais de maquiagem que eu não consigo imitar... Eu tô bem cansado de tudo isso. Alguns me passam a imagem de uma tranquilidade impar, um semblante tranquilo, outros apenas mostram beleza, uma beleza que atrai, outros contagiam com a bondade que há num sorriso, uma canção de amor, a doçura de um olhar. Mas tudo isso parece distante demais da realidade, da minha realidade. Quando eu olho no espelho eu só consigo me decepcionar. 

Aquele Cavaleiro passou a vida inteira em meio as rosas venenosas, e durante toda a sua vida amaldiçoou seu sangue por também ser venenoso mas, ao morrer, e ver as pétalas de suas rosas voarem pelo céu tingindo-o de gotas vermelhas como sangue, pela primeira vez ele as achou... Belas!

O que mais eu esperava? Pra ser sincero eu não sei, mas sei que não era apenas isso. Levantar todos os dias e, olhando o horizonte, não conseguir enxergar nada do futuro, apenas uma incômoda sucessão de decepções e um vazio que volta e meia retorna. E o mais que faço não vale nada! 

As pessoas então mentem, ao olhar longe e ver uma miragem, elas mentem para si mesmas que a vida tem um sentido, que as lutas vão valer a pena, mas não acreditam nisso de verdade, é apenas para amenizar o desespero que elas sentem. Eu já não sinto nem isso. Não sinto nada. Se há ainda alguma coisa em meu peito é apenas desesperança. A vida é apenas um tormento. E, no fim, tudo retorna ao nada.

“Vaidade das vaidades, diz o Eclesiastes, vaidade das vaidades! Tudo é vaidade”. Por exemplo: um homem que trabalhou com inteligência, competência e sucesso, vê-se obrigado a deixar tudo em herança a outro que em nada colaborou. Também isso é vaidade e grande desgraça. De fato, que resta ao homem de todos os trabalhos e preocupações que o desgastam debaixo do sol? Toda a sua vida é sofrimento, sua ocupação, um tormento. Nem mesmo de noite repousa o seu coração. Também isso é vaidade. (Ecl 1,2;2,21-23)

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