quinta-feira, 18 de agosto de 2022

Oitenta e sete


– Cada um de nós está, no final, sozinho. – disse Joe.
– Como assim?
– Quero dizer, não importa quão bem a coisa esteja indo no sexo, no amor ou em ambos, chega um dia em que tudo acaba.
– Isso é triste – disse Edna.
– Claro que é. Então chega o dia em que tudo acaba. Ou há uma separação ou a coisa toda se resolve em uma trégua: duas pessoas vivendo juntas sem sentir nada. Acho que ficar sozinho é melhor.
(Charles Bukowski - Ao sul de lugar nenhum)

Eles não têm ideia, nem sequer podem imaginar. Minha mãe entrou no meu quarto hoje e, me vendo deitado, disse que eu deveria me animar mais, arrumar as coisas pra mudança em alguns dias. Disse que eu não posso ficar desanimado assim, que eu preciso reagir. Ela não imagina que eu quase não amanheci o o dia de hoje vivo, que eu já não aguentava mais e que não queria chegar ao fim da noite de ontem, e estava decidido a dar cabo disso de uma vez por todas. Estava tomado de pânico, o desespero me rodeava como fera prestes a me devorar, não via nenhuma luz, não ouvia nenhuma voz, era tudo escuridão e silêncio.

Foi a contragosto que eu comecei a assistir, e então consegui me acalmar, e pouco a pouco deixei os remédios fazerem o efeito desejado e consegui deitar e dormir... 

Aprendi a ser sozinho. As pessoas da minha casa ou meus amigos não imaginam o inferno que é minha mente. Os personagens dos BLs e as músicas que escuto são minhas únicas companhias nessa existência amarga. Também não entendem, que minhas coisas sujas, a mesa cheia de poeira, é um reflexo do meu desânimo para tudo. 

Hoje eu me confessei, e realmente precisava ouvir alguns conselhos. Mas o fato é que, embora tenham me acalmado um pouco, não foram capazes de despertar em mim esse ânimo que esperam, e eu lamento muito por isso. Tenho vivido dias lacrimosos. Minha vontade é apenas dormir e, se possível, não acordar mais, assim seria bem melhor e mais fácil. Mas pelo jeito ainda há muito para lutar, e eu só não sei pelo quê estou lutando. 

Felicidade? 

Realização? 

Essas coisas sequer existem? 

Me sinto absolutamente perdido. As pessoas ao meu redor correndo, arrumando as coisas, falando alto, ocupadas demais, e eu catatônico, sorrindo porque me lembrei do trecho de uma música bonita e só, não consigo passar disso. Enquanto eles lutam eu deito e fecho os olhos me obrigando a fugir pra outro mundo, onde não podem me encontrar, onde não há barulho, onde eu existo de modo tão abstrato que sequer pode-se dizer que estou vivo, apenas uma ideia parando no sobrecéu sem nenhum compromisso com essa realidade caótica. Mas uma hora ou outra eu preciso voltar a realidade...

Quisera adormecer um sono profundo e não mais acordar, quisera que a Tua bondade me deixasse morrer de amor. Essa é a minha prece mais sincera. Já não peço por nada que possa vir a ter ou ser, não almejo nada além da Tua paz, que ela possa habitar em mim. Pois já não restou nada, o ser que eleva essas preces é apenas uma casca vazia, não há algo em mim que possa se tornar algo mais. Por isso eu peço a clemência de uma morte santa, apenas isso. 

Saturada de males se encontra a minh’alma, 
minha vida chegou junto às portas da morte.  
Sou contado entre aqueles que descem à cova, 
toda gente me vê como um caso perdido!  

O meu leito já tenho no reino dos mortos, 
como um homem caído que jaz no sepulcro, 
de quem mesmo o Senhor se esqueceu para sempre 
e excluiu por completo da sua atenção. 

Ó Senhor, me pusestes na cova mais funda, 
nos locais tenebrosos da sombra da morte. 
Sobre mim cai o peso do vosso furor, 
vossas ondas enormes me cobrem, me afogam. (Sl 87)

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