terça-feira, 9 de agosto de 2022

Espelho

Dormi ontem o dia inteiro, acordei para assistir alguns episódios de série e voltei a dormir, sem me estender em nenhum contato, sem falar com muita gente, apenas existindo no mínimo, sem me obrigar a fazer nada, porque eu não tenho tido disposição nenhuma. Hoje parece que não vai ser diferente, não consegui me concentrar na aula, da qual só prestei atenção nos primeiros trinta minutos e até mesmo agora eu já olho pro vidrinho de Rivotril aqui do meu lado na mesa e penso em apagar por algumas horas, até o anoitecer. 

Eu devia encaixotar meus livros, ou arrumar alguma coisa, mas não consigo encontrar forças pra isso. Minha família continua procurando uma casa em Santa Catarina, as passagens já estão compradas, mas eu não consigo nem mesmo imaginar em como essa mudança pode ser uma coisa boa pra gente, pelo contrário, eu acho que as coisas vão até mesmo piorar. Não tem como, esse pessimismo é natural em mim, não consigo imaginar uma realidade em que eu possa ser feliz ou, no mínimo, menos infeliz. 

A verdade é que cada vez que eu deito sob efeito de fortes remédios eu torço pra não acordar mais, simples assim. O amor não existe, a esperança é apenas uma fonte de desespero e decepção, amizades se perdem no caminho e, no fim, continuamos sozinhos numa vida sem sentido, lutando para sobreviver, e para quê? 

Perco-me em belos olhos, sorrisos de anjos que vivem em outras órbitas celestes, distantes demais. Fiquei feliz por alguns minutos quando consegui fazer uma maquiagem inspirada num idol daqueles, mas acho que não mais de dez pessoas viram. A minha vida é invisível. Eu sou invisível. Eu não consigo fazer nada direito e nada do que eu faço dá certo. 

A vida deles não é real, ou talvez seja mas não para mim. Há felicidade no mundo? Em doses homeopáticas, de resto a vida é apenas sofrimento e dor, decepção, fracasso após fracasso. Cada um desses aspectos eu vejo ao me olhar no espelho. A vida desses anjos é apenas para que pensemos que existe algo melhor, quando não existe. Só para eles. Por isso não enxergo outra saída melhor senão a morte, doce irmã morte, que me abraçaria em seu manto negro e me levaria, e ninguém sentiria minha falta já que, ao que parece, ninguém além dela parece querer segurar a minha mão. 

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