segunda-feira, 8 de agosto de 2022

Uma pergunta

Muitos pensamentos, e vários deles de uma profundidade ímpar, mas que a atual confusão na minha mente impede de sintetizar em palavras. A pressão dessa mudança tão brusca, para um estado tão distante, é meio chocante e a ansiedade se fez presente, preciso lidar com ela de algum modo. Não é nenhuma novidade que escolhi me recolher e dormir, assim posso organizar melhor os insumos que venho recebendo e reagir de modo satisfatório. 

Ontem durante a madrugada tive uma longa conversa com uma amiga, que também tem um transtorno de personalidade como o meu, e conversávamos basicamente sobre possibilidades. Depois de uma longa reflexão sobre como precisamos nos adaptar as dificuldades de nossos transtornos e como isso impactou diretamente em nossas amizades, empregos, relacionamentos amorosos, e que agora que conseguimos equilibrar melhor todas essas questões como estamos encarando o futuro. 

A pergunta que se tornou o eixo da conversa foi "como seria se fôssemos pessoas normais, que conseguem se relacionar de forma comum, sem todo um influxo emocional descontrolado?" 

Minha reflexão partiu do ponto de que eu já sonhei muito com relacionamentos perfeitos, amigos com quem posso contar sempre e sempre e que não me importaria de sentar numa mesa de bar com eles passar horas conversando, ou um relacionamento romântico não perfeito mas, ao menos, igual ao das outras pessoas, com altos e baixos e não apenas fracassos como temos vivido. 

E sim, eu sempre sonhei com essas coisas, mas a minha personalidade inconstante me afasta dos outros, eu não sou a primeira opção de ninguém. E então eu assumi uma posição pessimista, eu não tenho e nem cultivo mais sonhos e nem esperanças, essas coisas são apenas motivação para dor e sofrimento quando a decepção inevitavelmente chegar. 

Por isso também é com amargura que vejo os outro ao meu redor felizes, ainda que por vezes pareça ser uma falsa felicidade, e eu queria ser feliz assim, sorrir assim, mas parece que, para pessoas como nós só nos restam as tristezas e decepções, as dores de não sermos amados e nem compreendidos, de sermos estranhos demais.

Buscamos então refúgio no mundo literário onde, encarnando os personagens que vemos, podemos pelo menos por esforço imaginativo, viver um amor, uma amizade. É assim que as séries se tornaram nosso porto seguro, nosso lugar de calma. 

Mesmo assim ainda nos resta a pergunta que, embora abafemos, não se cala: será que poderíamos ser felizes? 

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