quarta-feira, 20 de julho de 2022

Do ideal

Foi mais uma noite insone, e eu sei que deveria parar de citar isso nos meus textos como se fosse uma informação realmente importante, e eu acabo de ver o sol nascer enquanto ouvia algumas músicas do Jeff Satur e admito que foi uma bela visão, o silêncio da madrugada pouco a pouco dando lugar ao piado distante dos pássaros e o azul escuro dando lugar ao laranja e depois a um azul clarinho da manhã preguiçosa. Passei a noite toda assistindo Business Proposal, e isso porque eu comecei no intuito de ver só um episódio, acabei vendo oito, bom, de qualquer modo eu não tinha nada melhor para fazer afinal desde ontem já sentia a minha cabeça doer muito, um sinal de que o episódio misto que vinha se prolongando nas últimas semanas ia dar lugar a uma nova ciclagem, e é interessante notar como eu também digo isso como se ter Transtorno Bipolar fizesse de mim alguém psicologicamente interessante e não apenas mentalmente desequilibrado. 

Mais uma vez eu me vi apaixonado pelos atores e pelos personagens, a Coreia sempre criando um padrão de relacionamento numa proporção ridiculamente exagerada e deixando nós, pobres mortais, com a sensação de que nunca vamos encontrar ninguém parecido, e não vamos mesmo. Homens lindos, inteligentes, educados e preocupados como os dos doramas não existem, são apenas uma idealização que serve, no máximo, para formação do imaginário com o objetivo de buscar a virtude de forma a sermos como eles, mas não por acreditar que alguém como eles vai aparecer de repente num encontro arranjado pela família ou num esbarrão ao sair da loja de conveniências. Mas eu também já falei sobre isso em mais de uma oportunidade. 

Acredito que minha tendência a repetição seja não só um charme do meu estilo como também uma forma de imprimir, em mim mesmo e também em quem se aventure a ler essas páginas, essas mensagens que eu captei com um pouco de esforço de percepção, não sem antes muito me machucar com as numerosas decepções amorosas amortecidas por noites de álcool e dias de ansiolíticos. Quantas vezes eu suspirei numa cena romântica de uma série ou de um vídeo musical? Demorei a entender que, assim como as virtudes morais dos grandes heróis da literatura universal, os personagens dos romances possuem qualidades exaltadas justamente para que essas sejam imitadas, é a forma memorável de dizer que nos faz querer que aquela possibilidade se torne realidade, do ato a potência, mas que essa realização deve ser feita por nós mesmos, e não esperarmos que seja fruto do acaso que nas cenas é perpetuado. 

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