quinta-feira, 7 de julho de 2022

Moldando desejos

O desânimo tem me contaminado, não tenho tido disposição para nada, desde aquele dia que parece ter girado em mim a válvula da minha depressão. Quero ficar deitado o dia todo, ouvindo música, alguma aula ou então assistindo alguma série, qualquer coisa que faça barulho suficiente para que eu não pense demais. 

Estranhamente eu também, embora me sinta sozinho, não tenho desejado ninguém ao meu lado. Normalmente, quando eu pensava em alguém, eu pensava em como seria bom abraçar, tocar, sentir o cheiro, o carinho, eu então sonhava... Mas agora não, eu simplesmente tenho sentido uma grande indiferença, quem sabe até mesmo uma aversão, ao sentimento de querer alguém comigo. Embora ainda me sinta só eu não quero ninguém. 

Pelo menos isso me permite concentrar em outras coisas mais importantes, o meu estudo é a única coisa que tem evoluído nos últimos tempos. Felizmente quando essa época difícil passar, se passar, eu terei condições de evoluir um pouco mais. Até lá eu me contento em tentar absorver a sabedoria dos meus mestres e absorver também da beleza e o que a arte tem para me ensinar, cada vez me aprofundando mais no espírito humano. 

X

Em contraste com os três últimos parágrafos eu entrei em episódio misto na tarde de ontem, o que resultou numa noite insone, algumas trocas de nudes e depois vários episódios de um dorama muito intetessante, Why Her?, com o gatíssimo Hwang In Youp num papel atencioso, protetor, gentil e com um forte senso de justiça, a faísca virtuosa que falta no ambiente pervertido do universo corporativo em que ele se envolveu. Me encantei com as suas demonstrações singelas de carinho e proteção para com a protagonista. Um abraço num momento de fraqueza, um simples guarda-chuva num dia de temporal inesperado, o correr por várias ruas para chegar até ela antes que se machucasse num caso perigoso. 

É belo ver a construção do relacionamento deles. Ela é forte, independente e destemida mas, no fundo, sente-se bem quando ele diz que se preocupa com seu bem estar, quando insiste em dormir por perto ou quando leva comida pra ela e diz pra descansar apesar das dificuldades. Apesar de toda a tentativa ideológica de colocar a personagem feminina como mais forte e inteligente que todos os homens, no fim, quando sente medo, é para ele que ela liga primeiro, pois sabe que ele fará de tudo para que ela não se machuque.  Isso é bonito de se ver, que o verdadeiro romantismo e sentido dos lugares do homem e da mulher não se perderam completamente. 

Mas agora eu preciso dormir, e deixar tudo isso se relacionar com o que já há na minha mente e, da dialética entre essas diversas impressões eu vou compreendendo um pouco mais da tensão que permeia o espírito humano, os conflitos morais, os impulsos que muitas vezes não conseguimos vencer, enfim, toda a vasta gama de elementos que compõem o homem e sua personalidade e que me ajudam, ao fim, entender um pouco mais o que se passa no meu próprio espírito. É, portanto, no silêncio do sono dessa tarde que eu pretendo decantar esses conhecimentos e, talvez, conseguir responder a pergunta: O que eu quero realmente? Sentir-me bem e sozinho ou desejar alguém que, guardadas as devidas proporções, se pareça com o ideal de beleza que me foi apresentado?

Sei bem das implicações que há em desejar um relacionamento perfeito, mas o que eu quero não é isso. Eu não quero um homem perfeito como os dos doramas porque eu sei que eles não existem, é apenas um modo da indústria valorizar as virtudes por meio do exagero delas, já que não somos mais capazes de captar sutilezas. Eu quero algo que seja fruto de um esforço, que cuidemos um do outro e que isso seja nossa versão da beleza: a beleza que é construída com esforço, como o do escultor ao empregar a força no cinzel contra a rocha dura e construir dali uma bela obra, é isso que eu quero moldar. 

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