sexta-feira, 15 de julho de 2022

Alguns dias incompreendidos

Não adianta, por mais que explique eles não entendem. Não que eu durmo porque ficar acordado é sempre uma tortura, e não um martírio, mas apenas uma tortura sem sentido, vazia. O sol brilha forte, quase me cega aqui fora mas no peito há uma lente em que tudo que eu vejo é cinza. Afora os poucos momentos de histórias de amor eu não consigo jamais ver as coisas de outro modo senão esse mesmo cinza. 

Tem dias que simplesmente amanheço com a cabeça um pouco atrapalhada. A visão do homem, do mundo, então cansa. Muita coisa ao mesmo tempo, e isso me confunde, me deixa perdido, e então é ai que eu corro, fujo para longe, até que consiga escapar do nevoeiro que me cerca. 

Em dias como esses me surgem ideias medonhas, que pululam a mente como serpentes se entrelaçando no chão frio, eu fico de frente pra tela com os olhos distantes e opacos, a única coisa que parece viva em mim é a voz, que ainda canta com alguma força, mas apenas isso. É mais ou menos como diz a música "águia não sou, meu Senhor, dela trago tão somente o olhar, e também no coração a aspiração do seu voar." A música e as histórias de amor são as únicas coisas que vivem em mim, de resto, sou um cadáver adiado, que ainda caminha mas não tem rumo a seguir. 

Parece exagerado, sei bem disso, e também estou ciente que quem ler isso não vai entender, mas eu digo porque pelo menos me ajuda a exorcizar um pouco os demônios que me cercam. Se nem em casa eu me sinto bem, se até fujo daqueles que aqui moram, se fico no quarto pra não ver mais ninguém, é porque as forças que há dentro de mim confluem para isso. E se eu não consigo focar em mais nada além daquilo que povoa a minha imaginação só o que posso fazer é ceder a pressão de me apagar, de me entregar ao silêncio e a escuridão, que me abraçam e me ajudam a limitar minha visão para então voltar a enxergar o que de fato é importante. Até lá, no entanto, preciso do silêncio. 

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