quarta-feira, 16 de agosto de 2023

Aforismos

Eu digo essas coisas de um jeitinho bobo e carinhoso, você sabe, e essas palavras não encobrem aquela malícia típica de quem busca encontrar algum ponto “fraco” uma abertura... Não, eu não quero isso, mas continuo falando assim porque gosto dessa proximidade. É o que mais se parece com aquelas cenas de luz natural entrando pela janela cedinho de manhã, com o café fumegante e a música baixinha, os sorrisos e os planos futuros. Como nada disso é real, eu acho, pelo menos dada nossa distância, ao menos eu consigo me aproximar de algum modo, de novo, de um jeito bobo mas carinhoso, como se pudesse atravessar, como se pudesse te tocar... Meio confuso, eu sei, mas entende o que digo com isso? Mas então, eu posso continuar sonhando, assim quietinho no meu canto, com essas manhãs ao seu lado? Posso sonhar tocando seu rosto com carinho, deitado em seu peito, te abraçando forte quando me acorda ou brincando de apertar suas bochechas ou seu bumbum? Eu posso me atrever a isso? Posso me recarregar num abraço quentinho e apertado? É claro que já sei a resposta para tudo isso mas, de todo modo, permita-me sonhar um pouco... Permita-me ser feliz ao menos num breve e solitário sonho.

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Continuo imerso em dias intensos, meus braços doem e minha cabeça já demora para entender coisas simples, a quantidade de café e energético correndo nas minhas veias já ultrapassa quaisquer outras substâncias, e ainda faltam três dias, os mais intensos, quase uma maratona. Meu cansaço tem sido tão grande que eu nem mesmo tenho reagido muito, por exemplo, ao ter finalmente conseguido estabelecer um certo nível de diálogo com um alguém especial... Se considerar o que já disse sobre ele aqui alguns meses atrás eu estaria simplesmente exultante de alegria, cantando aos quatro ventos na companhia de anjos, mas nem isso tem me feito reagir. Pode-se dizer que estou até indiferente, talvez um pouco feliz, é verdade, mas sem forças para conseguir fazer algo além de escrever esse texto mesmo, o que talvez eu devesse reorientar para falar com ele ao invés de falar sozinho aqui. Bom, paciência. 

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Exercitando muito hoje essa mesma paciência, em meio aos desmandos, aos planos frustrados, a organização engolida pelo fluxo criativo, pela loucura das gentes e dos egos inflados. O cansaço continua cobrando um preço caro, além disso todos esperam a mesma disposição e eficiência de algo preparado pelos mínimos detalhes... Uma vez mais, e já perdi a conta, caem na armadilha de se cegarem pelo supérfluo, tempo demais falando demais e tomando decisões de menos. 

Me deparo, além disso, com mais e mais demonstrações da minha incompetência mas, como uma amiga disse que isso era injusto demais comigo, digo que me deparo com minhas limitações. Que seja. Eu me vejo então numa posição de liderança sem, no entanto, nenhuma autoridade, muito embora investido de responsabilidade. É sempre assim eu acho. Vejo, em pequenos detalhes então, que eu não deveria estar aqui, que eu não sei fazer nada do que confiam que eu faça, que eu sou apenas um idiota de crachá. O que me consola, no entanto, é ver quantos idiotas de crachá. Num mundo onde a mediocridade é incentivada como valor máximo do homem eu me encaixo direitinho. Idiota e incapaz. Humano demasiado humano. 

Bom, e já que comecei a me lamentar de novo, o que não é nem deve deixar de ser um hábito dessa pobre criatura, aproveito para reclamar ainda um pouco mais do cansaço que é conviver com o outro quando só queria estar em quietude, quando só queria estar em silêncio, quando só queria chegar e dormir, sem o incômodo das perguntas intrometidas e desinteressadas, sem as banalidades das músicas idiotas e repetitivas, sem a interferência incômoda da socialização... Para alguém que, até hoje, viveu buscando alguém, devo admitir que estou muito descontente com o outro. Acho que prefiro dormir, e até isso me é vedado, já que esse nosso maravilhoso Estado mínimo enfia seu dedo invisível dentro do meu rabo vigiando até mesmo os remédios que eu tomo pra dormir. Viva a mediocridade e a hipocrisia do mais trabalhador mais idiota aos grandes e poderosos apreciadores de vinho que discutem, como quem observa terra a vista do alto do caralho de uma caravela, uma terra mágica sem defeitos.


Quando disse que os vislumbres que tenho de sua consciência me são como luzes breves que se apagam lançando uma ilha na escuridão, na verdade eu só estava escondendo nessa imagem a verdade que, eu vendo muito claramente o seu coração, prefiro escondê-lo na escuridão, covardemente relutante em encarar a luz que te guia com mais clareza que a do meio dia e que eu, que a bem conhecia, finjo não ver. 

Na verdade, o que me machuca é que, ao chegar em casa, chateado e cansado, o que vejo é justamente uma ilha escura, sem poder sequer descansar, sem ter onde encostar a cabeça. Não preciso dizer que em seu peito é onde eu gostaria de me encostar não é?

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