sexta-feira, 25 de agosto de 2023

Nos meus sonhos

"(...) Jamais uma simples teoria dos instintos será capaz de apreender esta coisa poderosa e misteriosa que é a alma humana e, consequentemente, sua expressão, que é o sonho. Para fazer alguma justiça ao sonho, temos de recorrer a instrumentos que só poderemos obter através de laboriosa investigação nos diversos domínio das ciências do espírito." Carl G. Jung

Tenho sonhado com ele, nos últimos três dias. E tenho estranhado porque, geralmente, não me lembro de meus sonhos. Mas agora toda noite ele está lá, de algum modo. Eu acordo e, mesmo que os detalhes tenham desaparecido junto com a névoa do sono, eu me recordo com precisão da presença dele, se parecendo com aquela sensação que eu tive tempos atrás ao passar na frente de sua casa e sentir a sua presença me chamando, ou como ficava hipnotizado por ele, de alva e cíngulo ad altare Dei

Esses sonhos podem significar que tenho pensado nele mais do que o normal? Ou que fiquei profundamente chateado com aquela indiferença dos últimos dias? Ou será que podem significar que ele também pensa em mim e que estamos ressoando nos sonhos do outro? Será que ele também sonha comigo? Será que pergunta por mim? 

Se fecho os olhos vejo ele naquelas fotos, desconfortável pela timidez mas, ao mesmo tempo, relaxado pela companhia do amigo, ainda mais bonito que ele e que me ignora ainda mais. Todos eles me ignoram. Me elogiaram por ser imperceptível ao tirar fotos mas, aos olhos deles, eu sou imperceptível sempre. 

Embora esteja habituado com a solidão ela ainda não me parece certa. Embora eu não consiga ir atrás de me relacionar com mais ninguém eu sinto que isso ainda é profundamente e fundamentalmente errado. E isso me tira a paz. Num instante em que meu peito se inflamou logo pensei que, nessa vida, não haveria paz, e que apenas sentiria tranquilidade ao morrer, mas pensando um pouco melhor, será que realmente existe essa tal de paz em algum lugar ou plano da existência?

Sou então tomado daquele profundo sentimento de pessimismo e total descrença quanto ao outro, ao futuro e, especialmente, quanto a mim mesmo. Acham que eu acordo de manhã em busca de um objetivo? Que eu tenho algo pelo qual luto todos os dias? Bobagem. Eu só me incomodo com as reclamações dos outros e por isso tento ser útil e incomodar o menos possível, e o mais que faço não vale nada. Se tem algo em mim que busca por algo é essa maldita parte, esse maldito desejo profundo, algo tão impregnado nas minhas entranhas que eu gostaria de arrancar com dentes e garras, lançando ao chão minhas vísceras e esses desejos pelo outro. 

Você entende que eu precisava de uma resposta, só para ter certeza do que é real e do que eu inventei? Entende que eu precisava saber onde estou pisando? Entende que eu precisava entender se o que eu sinto pode ter algum futuro?

Eu odeio pensar nele, e em todos os outros, eu odeio tê-lo nos meus sonhos, eu odeio ficar excitado por causa de uma foto de um cara qualquer na academia, eu odeio o fato de, mesmo depois de ainda ter desistido, ainda esperar, mesmo que como uma centelha no meio da tempestade, que algum dia eu ainda encontre alguém, eu odeio ser patético assim... 

Só uma vez, só por uma mísera vez, eu queria não ser tão suscetível assim a esses amores. Só uma vez eu queria controlar meu coração do mesmo jeito que eu controlo não olhar pro moço bonito no ônibus porque estou mais preocupado com a história no livro. Só uma vez eu queria não mergulhar no oceano mais profundo para só perceber que estou só quando me encontro no abismo, já sem luz e sem ar...

E eu novamente tive a certeza, naquele abismo que tantas vezes fitei e que novamente tornei a me jogar, porque disso eu já sabia mas ainda tinha dúvidas, sabia e fingia não saber que aqueles olhos me fitavam com a frialdade da terra, de que criei minha própria armadilha, outra vez. É sempre assim. Sempre.

Sempre. 
Sempre.
Sempre. 

Sempre. 

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