quarta-feira, 30 de agosto de 2023

Aforismos

Nem mesmo permiti que tivesse tempo de melhor elaborar o que eu senti quando assisti ao segundo episódio de Dangerous Romance nessa tarde nublada. A fotografia mais série, levemente mais quente e melancólica que a maior parte das produções tailandesas já me encantou e eu sabia que a atuação do Perth e do Chimon iriam me arrancar lágrimas, e foi exatamente o que me aconteceu hoje. 

Que o personagem do Perth é só um garoto mimado que supre a insegurança causada pela ausência paterna exercendo força sobre os outros garotos do colégio isso não é novidade e é até um clichê bobo, mas a forma como exploraram a delicadeza da atuação dele em mudar totalmente sua atitude na simples visualização da fragilidade do outro, uma fragilidade que ele não pode causar e nem controlar, uma fragilidade real, muito maior que a que ele provocava na escola e que, até então, ele só podia imaginar que existia... O seu confronto com essa fragilidade o transformou num átimo de segundo, enquanto o choro desesperado do Sailom (Chimon aqui me deixou realmente emocionando e engasgado).

Aquele choro do Sailom, até então confiante e forte em enfrentar o colega mas de frente com um inimigo poderoso e real que ele não tinha nenhuma forma de vencer, que se prostrava sobre ele com ferocidade vulcânica. Aquele choro clamando o nome do outro que, naquele pesadelo surgira de repente, com más intenções, é verdade, mas que ao ver aquela cena tudo girou tão rapidamente que se tornou seu salvador, e naquele abraço suas lágrimas saltaram pesadamente, encontrando mãos que o consolaram timidamente e que repousaram sobre seus machucados.

Por fim, o olhar dele ao entender o que Kang fizera, seu rosto ferido, os olhos que ainda pouco choravam agora vendo que o outro estava realmente o protegendo... Aquele olhar foi o que ficou em mim quando eu mesmo fechei os olhos e deixei uma lágrima escorrer pelo rosto, emocionado, por aquela virada na situação. 

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Sim, eu tinha uma esperança boba, demente, em imaginar, pela milionésima vez, que conseguiria transformar nossa história em algo parecido com as séries. Patético. Quem eu achei que era? Nas séries em que os amigos se amam e logo se tornam amantes, superando juntos as dificuldades e os medos desse novo sentimento... Lá é tudo tão bonito mas é tudo tão... Irreal. É por isso que existem histórias assim, para que ao menos lá elas sejam possíveis, já que na vida real os fins são bem diferentes e sempre trazem dor aos envolvidos.

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Sabe que estou realmente tentado a começar a me exercitar? Talvez se finalmente corresponder as expectativas estéticas que eu mesmo tenho sobre os outros eu pare de buscar em corpos perfeitos de estranhos algum tipo de agrado ou acolhimento. Claramente uma perspectiva bastante egocêntrica mas até que faz sentido. Talvez eu passe menos tempo olhando e desejando homens bonitos e me sentindo bonito e desejado, que sabe me humilhando menos também. É uma possibilidade. Ou será que isso também e efeito das críticas passadas ecoando e que eu levei esse tempo para debilmente elaborar uma razão para dar ouvido a elas? Quanto mais me observo mais eu me dou conta da minha débil mentalidade. É pois com um sorriso irônico que eu percebo, de novo e de novo, o quanto sou idiota. 

Claro que só de usar uma medida comum pra definição do esteticamente agradável já mostra que isso ainda é pensar no outro, na impressão do outro. Mas, se ao menos para impressionar o outro eu passar mais tempo num culto autofágico e menos tempo me humilhando já deve valer de alguma coisa. 

A saída mais madura seria elaborar tudo isso direito, mas quanto tempo levaria? Não sou muito dado a longos planejamentos de futuro. Prefiro, ou melhor, só tenho disposição, pro agora, talvez amanhã, no máximo. E é claro também que possivelmente um relacionamento maduro poderia ser efetivo na resolução, senão de todos mas pelo menos de alguns, desses problemas. Mas aí já é uma questão importante e que eu só poderia resolver caso não me apaixonasse tanto por caras mais novos com ainda menos maturidade que eu e ainda mais dificuldade de se aceitar ou que nem mesmo tem algum interesse em algo sério. Onde conhecer gente aqui? Não consigo nem amigos direito (claro que sendo um poço de melancolia e vinho é meio difícil alguém suportar mesmo) então onde achar um relacionamento sério e maduro que, aliás não por coincidência, é o sonho de quase todo mundo? Se alguém tiver uma boa resposta eu pago uma garrafa de vinho pra ouvir. 

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