quinta-feira, 10 de agosto de 2023

Inacreditável

Pode me chamar de louco, e tenho quase certeza que o sou, mas eu sonhei esse tempo todo em conseguir rever você. Desde o momento que você chegou com sua família, aquele grupo tão diverso e você logo se aproximou de mim, com olhinhos claros e brilhantes, o seu sorriso animado enquanto eu falava sobre a arquitetura do lugar, seu cabelo cacheando levemente nas pontas, os seus pulinhos de felicidade, toda aquela atenção a cada pequenino detalhe... 

Quando você se foi, pela primeira vez desde que vim trabalhar aqui, eu pensei: eu nunca mais vou vê-lo novamente. E internalizei essa percepção que ali me cortou como aço frio. Desde então eu apenas sonhei, e sonhei que poderia revê-lo novamente. Mas eu sabia que isso jamais ia acontecer. Turistas não costumam viajar sempre aos mesmos lugares e, muito menos, visitar os mesmos museus. 

E foi por isso que o encarei quando, seis meses depois, o vi novamente. O cabelo maior e mais loiro, brincos grossos, algo mais alto e mais sério, mas ainda conservando aquele brilho que me encantou na primeira vez. Eu não podia acreditar, e sem palavras eu apenas o segui com o olhar, enquanto você uma vez mais mergulhava no seu universo contemplativo. 

Pensei que seria apenas uma coincidência, não cheguei a pensar que iríamos sentar e conversar por quase uma hora inteira sobre algumas concepções filosóficas que surpreendentemente temos em comum. Mas conversamos, e você pediu meu contato, e no outro dia disse que poderia precisar da minha ajuda na faculdade, de modo platônico, e é claro que eu fui ao sétimo céu, eu sorri de modo mais brilhante que você, poderia sair cantando como nos filmes, fazendo coro comigo os pássaros e os transeuntes do mercado... Não havia ninguém mais feliz com que eu em falar contigo sobre beleza, sobre melancolia, sobre como enxergamos tudo isso. E você me pediu para compartilhar mais da minha experiência, e claro que eu me empolguei, era mais do que eu jamais ousaria sonhar, era um brilho que eu sequer pensava em rever e, de repente, eu poderia não apenas rever mas fazer parte dele... 

E, então, veio o silêncio.

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