terça-feira, 29 de agosto de 2023

Breve reflexão de dialética simbólica


As reflexões da Dialética Simbólica sempre nos servem de grande incentivo imaginativo e intelectual. A milenar observação do ciclo lunar como símbolo da tensão entre o mutável e o estático, a oposição entre a lua e o sol que culmina em todo aquele arcabouço do pensamento oriental que chegou até aqui de modo resumido e vulgarizado continuam, no entanto, sendo de uma potência sugestiva enorme não só aqueles que param para pensar nisso. Essa observação do universo exterior dá ao homem certa noção da complexidade do todo, que o intelecto tenta ordenar, ao que já dizia Aristóteles na Metafísica que "é próprio do sábio ordenar" sabendo ele muito bem que, por causa dessa mesma complexidade, o indivíduo pode apenas se aproximar dessa ordenação como numa assíntota.

Assim também os movimentos interiores são como que reflexo dos movimentos cósmicos, enquanto parte dos mesmos, e assim muitas vezes nos vemos perdidos em meio a esses movimentos internos infinitos que vão se demonstrando, transmutando, no nosso interior e se refletindo no exterior. Mas, apesar de ter sido impelido a esse pensamento nos estudos de Hegel e Bergson, foi outro movimento meu que encontrou nos filósofos algum eco.

Já sinto em mim os resultados daquela conversa, cuja resposta que obtive, uma síntese confusa de pensamentos dispersos que, em verdade, são apenas temerários da dor em vários níveis, me foram muito elucidativos. Infelizmente tenho esse hábito (ou seria habilidade?) de conseguir alçar profundas conclusões que desembocam em grandes problemas, esses sem solução ou conclusão alguma. Então aquela resposta, esclarecedora, se mostrou como o início de outro longo ciclo lunar, ao passo que esse mesmo ciclo se encontra ligado a todos os demais ciclos possivelmente inumeráveis. 

O que observo em mim, como movimento interno que eu sinto claramente manifesto no meu corpo, é justamente a tentativa do meu ser de se realinhar num outro eixo, buscando então se adaptar a decepção anunciada e manifesta. Encontro então em mim outro símbolo de mutação e de contraposição: o meu eu que deseja lançar-se de novo num abismo, nem tendo me recuperado de todas as últimas, e o eu que encontra terror na possibilidade de se abrir de novo ao futuro. 

Uma brincadeira dessa manhã me fez pensar, por exemplo, que eu nada desejo e nada tenho que verdadeiramente me faça levantar de manhã cedo. Verdadeiramente, se observar cada aspecto da minha vida, não há nada pela qual eu queira lutar realmente. Poderia facilmente sair andando sem rumo por aí, não soubesse que isso me fosse criar mais problemas. 

Claro que, embora eu tenha começado falando sobre dialética é apenas por meio do discurso poético que eu posso tentar, ao menos começar, descrever a tranquilidade pessimista que aquele diálogo me deixou. É como se eu realmente pudesse ter apagado toda e qualquer luz e, não vendo nada ao meu redor, estava absolutamente confortável com as trevas. Na verdade eu nunca estive em outro lugar senão nelas, apenas tinha ilusões de enxergar alguma luz, mas agora, desfeitas todas eu posso fechar os olhos para tudo mais. 

2 comentários:

  1. Meu filme favorito é O Palhaço , do Selton Mello. Um bom filme, adoro palhaço , e se ele for o Selton Mello , gosto mais ainda.
    Fala sobre um palhaço, obviamente, mas que nunca viveu algo além da arte circense: seu pai era palhaço, e por ordem, ele também. Ao longo do filme , um problema fica evidente aos cinéfilos e não-cinéfilos : Benjamin (o palhaço) quer sua própria identidade. Cheio dos problemas e responsabilidades herdadas do pai (palhaço chefe), desenvolve uma ânsia para conhecer o Novo e conseguir uma estabilidade a ponto de conseguir comprar um ventilador (ref do filme) . Assim, deixa o circo por algum tempo.
    Ele, que antes andava apenas com uma certidão de nascimento esbagaçada (analogia ao desgaste de sua identidade), consegue fazer o tão sonhado RG, assim como ter um emprego normal (e medíocre). Ele consegue todas estas coisas, mas percebeu que o que ele quer mesmo é ser palhaço. O filme é mais que isso, mas esta é a parte interessante agora :
    Benjamin nunca conheceu algo além do circo, seu eu empírico poderia ser resumido a barracas e narizes vermelhos. Ele teve que sair, ver o mundo de fora, e decidir qual caminho seguir.
    Talvez seja até parecido com a lua: qual é a fase que quer vestir nesta época da vida: de palhaço ou pessoa. ( um pouco palhaçofobica aqui)
    De qualquer forma, eu gosto do filme principalmente pela questão identitária : Benjamin demorou pra sair da vida circense, e demorou pouco pra voltar. Talvez ele tente ser trapezista em outro momento, ou roteirista de cinema , não sei , este é o cômico no ser : as incontáveis chances de mudar .


    Ps: o filme é bom mesmo

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    1. Eu claramente sou o palhaço aqui (risos de ironia e auto depreciação)

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