quarta-feira, 9 de agosto de 2023

Um desgraçado

Tem sido uma semana bem intensa no trabalho, muita coisa acontecendo ao mesmo tempo, muita coisa ainda por acontecer e, muita coisa acabou vindo para eu resolver. Foram textos, artes, documentos, dúvidas, reuniões. atendimentos, problemas... Tudo ao mesmo tempo. Em alguns dias em sequer consegui um intervalo para comer. Muito embora eu goste de saber que todo esse esforço vai dar resultado logo em breve, já que os eventos em preparação e as exposições devem ter boa recepção do público, eu acabei exagerando um pouco. O frenesi então acabou por me fazer exagerar na dose de trabalho, e de café, e o resultado foi uma taxa a pagar para a fadiga e ao cansaço. Ontem vim para casa absolutamente cansado, tendo que inclusive cancelar uma reunião à noite, caindo direto na cama. Hoje fui trabalhar, atendi um grupo de estudantes do Ensino Médio da cidade de São Bento do Sul e, depois disso, caí exausto no sofá da minha sala, ao que meus chefes me viram e disseram para voltar pra casa, onde estou agora e onde vou voltar a dormir, com o corpo dolorido, olhos pesados e a temperatura ligeiramente mais alta que o normal. Não sei se posso dizer que minha imunidade caiu, mas é fato que eu fiquei mais fraco, a minha alergia atacou e meu corpo reagiu pedindo, ou exigindo, por descanso. Tudo bem, o corpo deve ser ouvido, que o breve descanso dessa tarde possa revigorar minhas forças e me da ânimo para voltar. 

Enquanto isso é claro que, junto ao cansaço, o olhar fechado favorece que o pensamento se separe da minha cama e viaje, para dois seres que, recentemente, me marcaram. O primeiro, de que falei noutro texto recentemente e que não tornou a me responder e o segundo que, embora tenha me encantado por seu interesse genuíno ao me questionar algumas coisas, deve começar a me desprezar logo em breve, quando ver que seguimos valores distintos demais e que só naquele breve instante nos entendemos num interesse em comum. Acho que estou me tornando especialista em breves momentos, em paixões fugidias, em amores que duram o tempo que se olha para uma tela (contém ironia).

Alguma percepção especial nesses dias? Mas é claro que sim, afinal, o homem sensível nunca descansa a capacidade de sentir dor e beleza em todos os momentos. 

A cada dia então eu vejo mais e mais a nossa distância. Ele se deslumbra com títulos e teses, se empolga com termos técnicos e vibra de alegria com a possibilidade de entrar nesse mundo. Ele passa bastante tempo pensando na própria pureza e coisas desse tipo. Ele se empolga em ler o currículo lattes de pessoas que eu desprezo pelo simples fato de terem um, negando os convites de voltar para a universidade. Eu, por outro lado, encarno a minha impureza e não me empolgo com nada, nada me brilha os olhos, e me contento com meu fracasso. Amo apenas o longe e a miragem. Me perco em pequeninos sonhos que se vão no mesmo tempo em que o café esfria, a imaginação de alguém ao meu lado enquanto ouvimos música baixinho logo se desfaz também, e até as nossas músicas são diferentes. Ele não percebe o quanto somos diferentes? Ele deseja o céu e eu? Sou só um desgraçado que queria ser amado. Continua falando como se nós caminhássemos pro mesmo lado, mas não caminhamos, aliás eu não caminho pra lugar nenhum. Só consigo observar, já de longe, ele se afastando cada vez mais e mais, como todos que se afastaram. E nem digo que me animo com as minhas histórias de amor, não me empolgo com elas no mesmo sentido, elas apenas me ajudam a sobreviver porque me distraem dessa mesma solidão que sinto o tempo todo e que a cada dia cresce mais e mais.

Já não culpo ninguém por estar sozinho. Percebo em mim que minha essência é a solidão, a visão dos homens me cansa. Saio cedo e volto pra casa sozinho e em silêncio. 

Assisto sozinho e em silêncio. 
Amo e desprezo e em silêncio. 
Choro e me entristeço sozinho. 

E em silêncio.

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