sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

Do desespero

Nada

Morte

Horror

Solidão

Frio

Abandono

Vazio

Fogo

Torpor

Cinzas

Nada

Eu menti, para mim primeiramente, quando disse estar enfrentando a morte de frente, encarando-a face a face, sem medo. Não poderia estar mais enganado. Eu estou com medo, aterrorizado, absolutamente e completamente paralisado pelo medo de ser deixado, abandonado, trocado, por aquele que mais amo.

É um medo tão grande e tão poderoso que todos os aspectos da minha vida foram por ele dominados. Meu corpo, minha mente, minha alma. Tudo se encontra em trapos graças a esse medo. O que, no entanto, não compreendo é que já deveria ter me acostumado, afinal já fui de fato trocado, deixado, abandonado. 

Eu apenas aguardo pelo veredito oficial, uma vez que a sentença já foi aplicada. Eu apenas aguardo pela palavra que declare a minha morte, uma vez que já estou morto de verdade. 

A imagem do exército é a mais viva em minha mente nestes dias. O exército alto, forte e poderoso que marcha impiedosamente sobre mim, e eu, fraco, pequeno e indefeso, sem conseguir levantar sequer a voz para me defender dos ataques cruéis e desumanos que sofro. 

Não sou um oponente digno, senão que sou uma criança brincando de soldado, mas que volta para casa chorando ao ralar os joelhos nas pedrinhas do chão. No entanto, dessa vez, não enfrento inimigos imaginários, mas um exército de verdade, um inimigo verdadeiro, um inimigo que não posso vencer. 

Seria então fraqueza de minha parte, ou pura covardia, poupar o esforço de ser morto pela lança do inimigo e transpassar eu mesmo o meu próprio coração com um punhal? Estaria eu sendo um covarde? Mas convenhamos, eu sou um grande covarde!

Em mim restou a respiração arrastada, de quem se esforçou além do limite, de quem não aguenta mais correr. Minhas mãos tremem e meus olhos estão vidrados e cheios de lágrimas, numa estranha combinação de ausência e desespero. Talvez tenha me fechado em meu próprio enquanto ele é destruído pelas chamas, consumido pelas cinzas, reduzido a nada, o mesmo nada ao qual eu serei lançado. 

As trombetas do apocalipse ressoam pela minha mente até os cantos mais obscuros da minha alma. A tuba gloriosa vai convocando os mortos que habitam em mim para se apresentarem perante o trono do Rei, implorando clemência, implorando para que não sejam jogadas no fogo ácido, e nem no limbo do nada, onde nada acontece pela eternidade. 

Nada

Morte

Horror

Solidão

Frio

Abandono

Vazio

Fogo

Torpor

Cinzas

Nada

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