segunda-feira, 24 de dezembro de 2018

Do fim e de sorrisos

Já há alguns dias que eu olho no espelho, e vejo que preciso mudar algo. Fazer a barba, que há semanas não aparo, cortar o cabelo que já começou a perder a forma, ou simplesmente colocar um sorriso que seja. Isso já faria muita diferença. Mas não consigo.

Não tenho disposição pra isso, mesmo sabendo que seria bom pra mim, mas não, só quero continuar aqui, existindo, sem precisar comer ou dormir, sem precisar fazer nada de útil, sem fazer nada, apenas existindo esperando pelo dia que seja convidado a deixar da fazê-lo. Essa tem sido minha rotina. 

Eu olho no espelho e não reconheço o homem que aparece lá. Ele me parece triste, o rosto macilento e a pele oleosa mostram o descuido com o corpo, reflexo de um interior que já se cansou, de tudo. 

E é isto, tenho até sorrido, quando estou com meus amigos, o que tem sido meus únicos momentos de alegria, mas depois disso, sou tomado pelo mais absoluto vazio, e pintado pela escuridão mais profunda, e uma voz que sussurra que meu fim está próximo... Mas se ainda estou aqui, tirando forças sabe-se lá de onde, é porque eles estão comigo, e porque sei que mesmo depois de um dia cheio e cansativo, eles ainda estarão lá, comigo, abafando os sussurros da morte com o seu sorriso, e me fazendo sorrir, e me dizendo que não, meu fim não está próximo, minha alegria sim!

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