Meu corpo tenta aos poucos se recuperar da última crise. Há dias que não consigo me concentrar em nada, e há dias que meu sono tem sido minha única companhia. Odeio dias assim, pois me sinto fora de órbita e as pessoas falam comigo exigindo o mínimo de atenção, e tudo que eu consigo é contemplar a imensidão de um abismo que há dentro de meu próprio peito.
Por indicação de uma amiga eu fui fazer uma entrevista de emprego num colégio no município vizinho, e fui chamado para dar uma aula experimental no dia seguinte, sob a supervisão da coordenação pedagógica.
Como alguém que gosta de falar em público, e que tem uma razoável capacidade de expressão, eu não me senti pressionado com isso, mas o fato de estar sob olhares de julgamento me deixou completa e absolutamente aterrorizado.
Um verdadeiro vendaval surgiu dentro de mim, e a ansiedade atingiu níveis alarmantes. Como resultado eu fiquei praticamente de cama, incapaz de ter qualquer contato com o mundo exterior.
Preparei as aulas, com uma crescente insegurança, e passei a questionar a minha capacidade mesma de dar aula. Por outro lado me recordava dos anos de faculdades, dos muitos livros e cursos que fiz para me capacitar cada vez mais, mas ainda assim passei a crer que seria insuficiente.
Passei a ter a certeza de que não conseguiria. Passei a crer na minha completa incapacidade de fazer aquilo que passei 5 anos me preparando para fazer. Mesmo sabendo da incapacidade de grande parte das pessoas em julgar o que digo e penso, mesmo sabendo ser superior eu temia o julgamento daqueles que eu sabia que não iriam me compreender.
Na noite antes do dia marcado eu saí com uma amiga, e por alguns momentos consegui me distrair, enquanto apreciava as musicas de uma apresentação da banda sinfônica da Escola de Música de Brasília. Mas a ansiedade não tinha passado, apenas estava se preparando pra me dar o bote.
Tentei conversar, mas procurei a pessoa errada. Ele não me entendeu, ele não me ouviu, ele novamente me ignorou e isso é claro que me abalou. Se já estava vulnerável depois de falar com ele a ansiedade encontrou espaço dentro de mim.
Ela cresceu e me dominou novamente. As dores se espalharam pelos braços e pernas. Meu estômago fechou. Só consegui dormir porque o cansaço físico dessa mesma crise foi tão grande que eu certamente teria apagado em qualquer lugar.
No outro dia acordei, mas exausto é pouco pra descrever o que sentia. Algo me apertava o peito e a garganta. Meu estômago revirava. Não podia fechar os olhos pois mergulhava num abismo de escuridão e terror. Não conseguia parar de tremer, não conseguia comer.
Chegando lá eu tive de esperar. E esperar. E pra um ansioso isso é a pior coisa que pode acontecer.
Mas tudo isso era uma sabotagem. E das grandes. Eu mesmo me sabotei...
Claro que quando eu realmente precisei enfrentar a aula, tudo transcorreu na mais tranquila ordem, afinal não é minha primeira vez dando aula. Depois, quando cheguei em casa, o peso foi tirado de cima de minhas costas, e eu capotei, dormi o dia inteiro, numa evidente necessidade que meu corpo tinha de descansar...
Acho que essa é minha pior e mais destrutível mania: me destruir mesmo quando as coisas são apenas como são. Eu me saboto, a minha cabeça é a minha prisão, eu sou meu maior inimigo. Eu vejo, tantos aspectos de minha vida que poderiam ser melhores se eu não tivesse esse péssimo costume de me sabotar.
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