sábado, 29 de dezembro de 2018

Dor, torpor e agulhas

Minhas mãos tremem, e meus olhos custam a ficar abertos. A luz ainda que seja fraca, penetrando pelas frestas da cortina que não consegui tapar, machuca minha visão, e a escuridão se torna estranhamente acolhedora... O vento machuca as folhas das plantas no quintal, e os cantos da casa gritam em protesto. O barulho da chuva vem e vai, como ondas impetuosas de um mar, que as vezes se quebram violentamente contra a praia e às vezes chegam a ela de forma calma, quase como uma carícia de amor.

Meu braço arde, como se dele minha pele se desprendesse, como se a carne deixasse os meus ossos e aos poucos o brilho fosse deixando minha existência. Linhas finas brilham num escarlate como agulhas carmesim, o ardor me lembra que ainda estou vivo. Eu me machuquei mais uma vez, na esperança de assim esquecer a dor que fazia arder o meu peito. Engano meu! A dor se transformou num torpor, que me envolveu em seus tentáculos gelados como a frialdade da terra, e dele não pude escapar, senão que mostrei ao mundo uma face fria da qual eu não me orgulho. 

Quando finalmente pude me deitar, o sono não esperou sequer que fechasse os olhos, antes disso, me dominou como um leão feroz ao devorar a sua vítima, como ele devora minha força, como ele devora meu ser, deixando apenas os restos a serem devorados pelos vermes. E então adormeci, um sono profundo que, no entanto, não durou para sempre.

Droga! Quantas vezes adormeci na esperança de que não acordasse mais, quantas vezes adormeci na esperança de conseguir fugir do pesadelo que sou obrigado a viver todos os dias, quantas vezes adormeci na esperança de que ao acordar vesse uma mensagem me esperando, e dizendo que tudo o que vivemos não passou de um teste, uma mentira...

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