domingo, 9 de dezembro de 2018

Inferno Particular

Outro dia, outra sabotagem.

Sentado no escuro, absolutamente dominado pela carência, depois de uma noite de Lexotan e tequila, pensando nele e sabendo que ele não pensa em mim. Sim, sei bem que o que tenho dito não varia muito. Sei que não sou dos escritores mais habilidosos, afinal as minhas palavras giram em torno de um tema bem específico: meus relacionamentos fracassados, frutos da minha capacidade sempre impressionante de me apaixonar por quem nunca conseguirá corresponder o que sinto. 

De qualquer forma eu já me acostumei com essa realidade, e se a boca fala daquilo que o coração está cheio, de que outra coisa poderia falar, senão que de minhas mágoas? 

Como costumo dizer: hoje é um dia daqueles! E meu corpo já começa a protestar, desejando um outro alguém. A ansiedade que ontem me atingiu forte na cabeça hoje deu espaço para a carência me abraçar, e os tentáculos gelados dela já começar a rodear a minha mente e meu coração. 

Choro por qualquer coisa. 

A chuva me faz lembrar dele. 

As flores me fazem lembrar dele. 

O céu escuro me faz lembrar dele.

As estrelas me fazem lembrar dele.

Minha cama vazia me faz lembrar dele. 

Meus braços soltos me fazem lembrar dele. 

Tudo me faz lembrar dele. 

E eu sei que ele nem sequer se lembra de mim.

Novamente um sorriso irônico surge em meu rosto. Acho que é um costume estranho o que adquiri, o de rir de minha própria desgraça. O de rir mesmo em meio as lágrimas que me surgem ao pensar que ele pode deitar-se com outra nessa noite, entregando seu corpo a um alguém qualquer, enquanto sozinho eu penso nele, em como gostaria de tê-lo ao meu lado. E então eu fecho os olhos, e aos poucos aqueles sentimentos vem me dominando aos poucos.

O medo. 

A solidão.

A angústia crescente.

O desejo pela morte.

As cicatrizes de meu braço ardem, clamam para serem reabertas, para que possa sair por ali a dor que em meu peito transborda. Os pensamentos que há muito venho combatendo ganham força. Deveria continuar existindo? Deveria continuar insistindo nessa vida patética, sofrendo por quem sequer pensa em mim senão como algo menos importante do que um inseto? 

Como nos compassos de uma marcha fúnebre eu sinto o meu fim se aproximando. E a cada dia eu me convenço mais de que serei eu mesmo o meu carrasco. 

A risada do demônio desconstróis os temas da minha alegria pregressa. E tudo retorna ao nada. E tudo vai desmoronando, e eu mais uma vez mergulho no meu inferno particular, dentro dos recessos da minha própria mente. 

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