segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

O início da inexistência

Eu tentei, eu tentei mesmo, com todas as minhas forças, com tudo que tinha em mim. Cada fibra do meu corpo, cada parte do meu ser, tudo lutou, e eu vejo hoje que não fui um covarde. Eu não fugi, eu fiquei e enfrentei mesmo quando o inimigo se colocava em cima de mim e me machucava profundamente, mesmo quando o sangue caía em meus olhos e me tapava a visão, eu continuava tentando me levantar, tateando às cegas, indo contra os protestos de cada músculo que gritava para que não mais me levantasse, para que ficasse ali deitado, esperando a morte... 

Estou agora prostrado novamente, com estranho riso no rosto, de quem não se rendeu mas que sabe que logo o inimigo se aproxima para dar o derradeiro golpe. Engasgo com o sangue de minha garganta cortada, e meu pulmão em chamas clama pela gula da terra, que logo me destrua. Não sinto minhas mãos, e meus pés estão em carne viva. Não tenho mais forma humana, senão que sou uma garatuja, um não sei quê que ainda por pouco respira, um coração que bate em meio a carne que já começa a apodrecer. Sinto fome, mas meu corpo não aceita mais alimento, meu corpo já se decidiu pela morte.

O que sinto já não é mais dor, mas é o início da inexistência. O que sinto é o meu corpo se desfazendo em meio ao veneno do ar que respiro. Veneno este que foi preparado pelas rosas que me atraíram com sua beleza, para então me corroerem até os ossos para então ser devorado pelos vermes que habitam suas raízes. 

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