quinta-feira, 4 de julho de 2019

A fera que gritou EU no coração do mundo

O que está acontecendo comigo? O que é esse ímpeto de dor e langor que existe em mim e que me faz sentir tantas coisas que sequer consigo dizer o nome?

Como descrever o que sinto? Não sei o que dizer, apenas sinto um crescendo dentro de mim, sufocando, me apertando. Meus olhos querem chorar, e eu não quero chorar pois sei que, uma vez que comecem a rolar as lágrimas pelo meu rosto eu não vou mais conseguir parar. 

É uma sensação estranha. É um desejo profundo, pesadamente mascarado para não causar vergonha nem mesmo a mim. É um desejo que escondo de todos quanto me rodeiam, mas que agora se faz impossível de reprimir. É um desejo de ser aprovado, reconhecido, amado, querido. É um desejo de sentir-me partícipe, um desejo de me sentir membro de algo, de fazer parte efetivamente de algo. 

Tenho me sentido assim nos últimos dias por me sentir particularmente distante de uma pessoa em particular. E isso é patético! É patético que me sinta tão incapaz de fazer qualquer coisa por simplesmente ser incompatível com alguém. É patético questionar minha própria existência por não conseguir quebrar uma barreira conscientemente levantada por alguém para que não me aproximasse. É patético ser tão suscetível, tão fraco e vulnerável assim. É patético desejar com tanto ardor tocar o coração de alguém que não quer ser tocado. É loucura. 

É um desejo que se justapõe a tudo o que faço, a tudo o que tenho e a todos que conheço. É um desejo que surge da sensação constante, fria e incômoda de que não pertenço a nenhum lugar, de que nunca consigo estar completamente envolvido com alguma coisa. É um desejo que surge do fato de me sentir isolado de tudo e de todos, sem nunca conseguir compreender e nem ser compreendido. Esse desejo me leva ainda aos píncaros dessa mesma sensação quando começo a questionar até mesmo minha existência, quando me olho no espelho e não reconheço o que vejo ali refletido. 

O espelho frequentemente aparece em minhas visões pois é um símbolo do reconhecimento do ser. Aquele que se olha no espelho reconhece a si mesmo na imagem ali refletida. Isso às vezes não acontece comigo, senão que olho sem conseguir reconhecer quem é aquele com aparência animalesca que ali aparece refletido. Sou eu mesmo? 

O que está acontecendo comigo? O que é esse ímpeto de dor e langor que existe em mim e que me faz sentir tantas coisas que sequer consigo dizer o nome?

Já não sei mais quem sou, não me reconheço mais tão bem delimitado como antes. Não me identifico com nada que conheça, senão que acredito ser algo entre humano e animal. Baixo demais para ser homem e sensível demais para ser completamente fera. O que eu sou então? 

Só queria ser aquele que, mesmo sendo fera, gritou EU no coração do mundo.

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