quarta-feira, 10 de julho de 2019

Os golpes do destino

Perdido.
Apático.

Sem cor,
sem vida.

Sabe, nos últimos dias apenas tenho seguido minha rotina como de costume. Já não tento mais compreender muita coisa, apenas continuo aqui, caminhando, caminhando, seguindo, não sei até onde...

Até as palavras ásperas que lançam contra mim perderam seu poder. Já não doem mais. Como se as flechas em chamas ou as adagas envenenadas que disparam contra mim já não fizessem mais efeito. Não podem matar aquilo que já está morto. Não sinto mais nada, absorto em meu torpor. Perdi completamente qualquer vontade de viver que ainda pudesse haver em mim. As lágrimas são um reflexo tardio de todo choro que segurei, acredito, pois já não seguro mais. Meu corpo frágil treme e vacila em qualquer situação. É uma visão patética e desprezível. Se fosse um animal certamente já teria sido sacrificado. Mas as pessoas insistem em me ver como homem e por isso ainda me mantém vivo. Não as entendo, é justamente por causa de cada uma delas que perdi a vontade de viver.

Levantar da cama é uma tarefa difícil todos os dias. É um esforço enorme que não entendo porque tenho de fazê-lo. Trabalhar? Existem tantos outros tão medíocres quanto eu por aí, que diferença faz se qualquer um deles ocupar meu lugar? O sono parece ser a única hora em que o mundo é agradável.  Mas até isso tiraram de mim. Tenho me alimentado por simples necessidade de fazê-lo, há muito não consigo sentir o sabor dos alimentos.

Tenho sorrido um pouco quando me vejo no espelho. É engraçado ver outra pessoa reproduzindo as feições que faço. A pessoa que me olha no espelho não sou mais eu. É um homem de aparência feroz, de rugas profundas, barba longa e desgrenhada, cabelo bagunçado. Parece que ele não dorme há dias e seus olhos estão fundos, sem nenhuma cor.

Quem será ele?

O toque das pessoas perdeu seu significado. Mãos frias demais, corações distantes demais... Acho que a única coisa que ainda parece ter efeito em meus sentidos são os cortes finos em meu braço, enquanto sinto-me sangrar parece que sinto-me vivo, ainda que logo passe e fiquem apenas as cicatrizes, marcas frias do sangue que ali escorreu.

Cicatrizes.
Marcas.

As pessoas são como essa pequena lâmina, que corta a minha carne deixando sua marca e logo se vão, deixando comigo apenas a dor e, depois de um tempo, uma linha fina para me recordar de que um dia estiveram aqui.

Talvez seja isso a vida. Um contínuo de dores e marcas, de pessoas que vem e vão. De encontros sem sentido, aço frio e relacionamentos frustrados.

É, não me parece  que seja mais do que isso. 

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