quarta-feira, 24 de julho de 2019

Sempre

Me recordo bem que, ainda na semana passada, eu fitava as vitrines das lojas com o mais absoluto desinteresse, absorto em minhas preocupações, lutando contra os demônios de minha ansiedade que tentavam escapar de suas correntes. Contrariando todas as estatísticas eu saí sem comprar nada, sentindo nada mais do que um enorme vazio que nada ali poderia preencher.

Hoje, por outro lado, não dei dois passos sequer dentro da primeira loja sem gastar mais da metade de meu salário em produtos que nunca vou usar, sentindo nada mais do que um enorme vazio que nada ali poderia me preencher.

O prazer é momentâneo, e o busco como se fosse a felicidade. A felicidade é, então, não mais do que uma ilusão fugaz, uma visão no vapor de água que desaparece rapidamente ao menor contato dos dedos. É uma miragem que eu nunca poderei tocar. 

Tomado, por um desânimo completo ou por uma euforia suicida eu me vejo nas antípodas de uma guerra. Parte de mim quer se trancar no quarto e dormir, dopado, até que tudo se resolva de algum modo, e outra parte quer lutar, sair, correr, encontrar algo ou algum lugar melhor, onde toda essa dor não exista. 

Mas que dor é esta? 

É a dor da individualidade, a dor que vem do que me separa do outro, a dor que vem da incapacidade de me fazer entender e de entender o outro. A dor que vem de estar numa multidão e ainda sentir-se sozinho. A dor de estar sentado ao lado de uma pessoa todas as noites mas sentir que são completamente estranhos e que nada sabem um do outro, que nunca conseguiram tocar mais do que a superfície. É estar com alguém mas ainda estar sozinho. E estou cansado disso. 

Cansei de forçar a minha presença nas festas e nas reuniões. Cansei de mandar mensagens perguntando o que as pessoas pensam, o que as machuca porque, no fim das contas, poucos se importam com o que me machuca. Cansei de estar rodeado de barulho, prefiro ficar sozinho. Mas tudo bem não é? 

Eu sempre estive sozinho mesmo. 

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