sexta-feira, 5 de julho de 2019

Na contramão

Depois de alguns dias bem quentes e seco finalmente parece que o ar da minha cidade vai receber algum indulgência com algumas parcas nuvens de chuva sobre nossas cabeças. Me surpreendi quando abri a cortina e vi que uma garoa enchia o ar com aquele cheiro de terra úmida. Já estava há um bom tempo me revirando na cama, incomodado em partes com o calor e com minha mente correndo há mais ou menos 200 km/h na contramão, e resolvi me levantar e tomar um banho, e qual não foi minha alegria em ver que um pouco de umidade veio me visitar. 

Numa folga merecida, e inesperada, eu consegui dormir sem compromisso com os horários. Com uma tranquilidade rara desde que comecei em meu atual emprego foi de uma enorme gratificação poder assistir até tarde, como sempre fiz, e acordar sem muita preocupação. Isso é bom, eu precisava desse momento sem muitas obrigações pra tentar reorganizar a minha vida ou, pelo menos, a minha cabeça. 

Parece que fui deixando as coisas se acumularem dentro de mim. Ignorando os anseios de meu coração fui apenas aglutinando novas impressões e novos desejos. Só percebi quando me vi saturado de um pessimismo que refletia o sufocante estado de coisas em que deixei meu castelo interior. E então transbordei, em lágrimas e em sangue, e agora olhando as linhas finas e claras das cicatrizes nos meus braços eu concluo: consegui sobreviver a mais dos meus piores dias! Ainda que sobre o preço das gotas de meu sangue ou das minhas grossas e pesadas lágrimas eu continuo vivo e, se ainda continuo aqui, talvez haja algo a se fazer. 

É estranho como essa não positividade mas aparente neutralidade em receber da vida o que quer que ela tenha reservado para mim se contrasta com minha obcecada opinião negativa sobre tudo e todos. Talvez seja um efeito daquela pequena nuvenzinha de chuva que agora eu observo daqui da minha janela. Provavelmente ela não vá conseguir aliviar o acelerado processo de desertificação do nosso inverno, mas ao menos nos conceda uma pontinha de esperança pela estação da chuva que um dia há de voltar para lavar tudo isso de novo. 

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