terça-feira, 30 de julho de 2019

Corredor Escuro

Medo. As minhas mãos tremem, quase não consigo ficar de pé. Escrever é quase impossível. É como se cada músculo do meu corpo se recusasse a qualquer ação, é como se minha única vontade fosse a de ficar absorto num sono calmo, onde não houvesse essa insegurança constante, esse pavor de ficar sozinho. 

Meus pais saíram, a casa está vazia e escura, nesse momento eu sinto como se fosse desaparecer. Aqui, sozinho, no silêncio dessa noite fria, sem que ninguém saiba que aos poucos eu estou sumindo. É como se meu corpo e minha mente se dissolvessem num tipo de fumaça, etérea, fugaz. Sinto como se não fosse mais tangível do que aquele vapor que sobe da chaleira, onde aqueço um chá na esperança de que isso esquente um pouco meu coração. 

Mesmo sozinho é como se sentisse olhos invisíveis as minhas costas. Como se todos me olhassem, com olhar de julgamento. Como se todos me olhassem como se me odiassem. Todos me odeiam, eu tenho certeza disso, e o olhar frio de desprezo que todos dão a mim me confirmam isso. Eu não quero ser odiado, eu quero que todos gostem de mim, mas eu não consigo, sou imperfeito demais para isso. Eu não quero mais ficar só, não quero mais ser essa criancinha machucada que está sempre chorando... 

Eu estou sempre chorando. Seja no banho, no silêncio antes de dormir ou durante meu sorriso mais amarelo eu estou chorando. Isso porque a todo momento eu me sinto só. Mas eu não quero mais chorar, eu quero ser forte, eu quero ser um homem forte mas, quando eu olho para esse correndo vazio e escuro eu sinto medo, não do escuro apenas, mas da solidão que ele simboliza. É como se olhasse para o escuro do meu coração e só encontrasse isso, um abismo de solidão e vazio. 

Parece que não sou mais do que uma grande depressão, como se a profundidade do meu ser fosse o mais absoluto vazio, repleto de nada. Isso é desesperador. Eu olho para esse abismo e, quando ele olha para mim, sinto medo, pavor. Por isso as minhas mãos tremem, por isso eu enlouqueço e tomo as piores decisões. Por isso eu me sobrecarrego com compromissos e depois me desespero sem querer ir a nenhum deles, por isso eu tomo remédios para dormir, por isso eu bebo na  tentativa de amenizar esse medo, mas tudo isso só aumento o meu horror, tudo isso só me deixa ainda mais consciente do corredor escuro que há em mim. 

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