quinta-feira, 25 de julho de 2019

Do Último Desejo


Um caráter levemente melancólico toma conta do ser
Um abismo no lugar da essência.
O esperar pela morte se torna a única sina.
(Nícolas Gonçalves)

Cansei. Cansei, de tudo, de todos. Não aguento mais sequer abrir os olhos ou encher de ar os meus pulmões. Não aguento mais constatar minha existência. Não a suporto mais. Quero o fim, eu desejo voltar ao nada, eu quero desesperança, eu quero morte, eu quero a inexistência, eu quero aquele estado inicial que perdemos muito tempo atrás, eu quero qualquer coisa que faça cessar essa absoluta solidão. Eu quero qualquer coisa que cesse os gritos raivosos do silêncio de minha alma perturbada. Não quero mais viver, não quero mais essa existência patética, pífia, dolorida, solitária, cheia de egoísmos, cheia de avarezas, onde a subserviência e a ganância falam mais alto do que o suposto amor que deveria existir em nossos coração. Em nossos corações não há amor. Não há nada. Há apenas vazio. Um buraco, oco. Há apenas essa maldita imperfeição fundamental que assusta o ser humano desde o primeiro pensamento, há apenas o desejo de esperar pelo fim, pelo cessar de todas as tempestades, pelo cessar de todas as relações fúteis, pelo cessar de tudo. Não há esperança, não há paz e amor, não entendimento. Há apenas poder, e aqueles que são fracos para conquistar e se impor sobre os outros. Há apenas o sabor amargo da desesperança, misturado ao sangue das vísceras daqueles que se derramam apaixonadamente e que recebem em troca um punhal cravado no peito, acompanhado das risadas da vitória. Há apenas a total, completa e absoluta desesperança. Há apenas o caos, no coração do homem. Do homem que olha ao redor e foge das feras do mundo mas que, ao olhar para dentro de si, vê que o demônio mais assustador é aquele que habita seu próprio coração, é sua própria verdade. Verdade de solidão. Do homem podre, mortal, do homem boçal.  Há apenas o desejo pelo final.

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