sábado, 13 de julho de 2019

Retorno

Campo de Terror Absoluto

É o fim.
O ponto em que cessa minha existência e tem início a do outro.

A barreira final.
O limite consciencial entre eu e o outro. 

Aquilo que me separa de todos, que nos separa. 
Aquilo que nos torna individualidades concretas. 
Aquilo que faz com que eu seja eu e o outro, apenas o outro.

A definição da minha verdade, que contrasta com a verdade do outro.
O inferno são os outros.

Eu já entendi. Não somos todos condenados ao desentendimento absoluto, não, eu sou o único condenado a estranheza total com o próximo. Costumava pensar que todos fazíamos parte do mesmo rebanho de loucos, vivendo totalmente distantes uns dos outros, quando na verdade apenas eu me encontro num mundo diferente. 

Incapaz de ver o que todos os outros enxergam. 
Incapaz de entender o que dizem, o que fazem, o que entendem. 

O inferno são os outros.

Despersonalização.

Tento deixar de ser eu mesmo para me encaixar de alguma forma nas estruturas sensoriais do outro. Tento penetrar o limite de sua consciência, tocar seu coração. Mas esse é um escudo que não pode ser quebrado. A minha lança se partiu e já são serve mais para penetrar o lado do meu irmão. Minhas mãos apenas arranham o seu escudo, minha voz sequer pode ser ouvida. Ou melhor, é ouvida mas não compreendida. 

Mas isso não é possível de se fazer.

Eu sou aquele condenado pela existência a desejar o retorno. 

O que as pessoas perderam. 

As mentes que desapareceram, afobando-se para preencher o vazio da mente.

A complementação. 

A Instrumentalidade que fará todas as coisas se tornarem inexistência.

O retorno ao nada, o retorno a inexistência. Mas não, isto está errado, não é o retorno a inexistência. É o retorno aquele estado inicial, aquele útero primitivo que perdemos tempos atrás. É o retorno ao estado onde não há barreiras, onde findou o terror absoluto. 

Todas as almas e mentes se tornarão uma, atingindo o eterno equilíbrio. O objetivo final não é nada mais que isso!

Esse é o meu sonho. Utópico demais para sequer ser dito em voz alta. Mas é a única forma que enxergo para ser feliz. 

- Ninguém me entende!

- Qual é, você é idiota? É claro que ninguém te entende, ninguém nunca consegue te entender. O único que pode tomar conta de você e entendê-lo é você! Você mesmo! Portanto você deve se cuidar.

- Mas eu ainda não entendo a mim mesmo. Eu nem mesmo sei o que que faz de mim eu mesmo. Como é que eu posso amar a mim mesmo?

~


Obs.: o texto em negrito foi retirado de Neon Genesis Evangelion, de Hideaki Anno.

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