sábado, 25 de janeiro de 2020

Alucinações


Bateu uma brisa filosófica inesperada. Um fluxo de pensamentos que irromperam na minha cabeça como as águas violentas de uma represa que foi destruída, arrasando dezenas de quarteirões por onde quer que passe. Minha cidadela interior foi não apenas inundada mas dizimada. Um torrente impetuosa transformando em ruínas enlameadas o que antes foi uma construção imponente e  gloriosa. 

A quem estou querendo enganar? 
A cidade estava em ruínas empoeiradas desde muito antes da enchente.... 

E o que restou então? 

Sombras 
e pedaços, 

irreconhecíveis. 

As vozes na minha cabeça estão confusas. Ouço uma cantando no velório de minha mãe, e minhas lágrimas irrompem sem controle nenhum. De onde tirei isso? De onde tirei essa visão dantesca e macabra? Talvez de um vislumbre maldoso de um futuro quase certo. Afinal, a morte dos pais é algo que os filhos devem presenciar em tempos da paz. De certo não é um pensamento de todo irreal mas, não compreendo como pensar possa me preparar de verdade para isso. Apesar de que algo em mim ainda acha que se preparar para um futuro incerto e ainda mais cinzento do que o atual seja uma atitude madura. 

Do que tem medo? 

Na minha visão a capela do cemitério estava cheia, de muitas pessoas que conheço. Minha mãe conhece muita gente, e faz amizade com muita facilidade. Me lembro de reclamar com ela várias vezes sobre isso, já que parece ser um chamariz para aproveitadores. Eu me pergunto, então, se estive eu no lugar dela ali, sendo sepultado. Será que além de meus pais haveria alguém em meu enterro. A visão tomou um rumo que não gostei muito então. 

Do que tem medo?

Parece vazio.

Do que tem medo?

Vazio demais.

Do que tem medo?

Mais vazio do que gostaria. 

Talvez tão vazio quanto meu coração neste exato momento. 

De onde veio isso? 

Talvez a atual desesperança, fruto de um olhar infeliz no espelho que gerou uma série de dúvidas existenciais e lançou minha autoestima no mais profundo dos poços (Oi Samara, adorei o cabelo!), tenha me feito imaginar alguma possível situação pior. Como se já não estivesse ruim o suficiente. 

Lágrimas

Tudo parece errado. Em mim. Na minha casa. No mundo ao meu redor. Traições. Medos. Abandono. Epidemias. Corrupção. Guerras. Parece que tudo aos poucos desmorona pelo impacto dessa enchente, que a tudo leva, a tudo destrói, a tudo desfaz. O mundo está acabando.

Outra voz sussurra trechos dispersos de Nietzsche, dizendo que preciso me apossar do Amor fati e abraçar tudo o que a vida me dá, sejam as impressões frias de um presente confuso e amedrontado e de um futuro muito, muito incerto. Talvez seja uma boa fuga deste niilismo horroroso em que me meti, deste abismo em que caí depois de encará-lo por tanto tempo. Mas como fugir disso? Como encarar de frente todas essas coisas? Somente um super homem poderia fazê-lo, e eu não sou um super homem, sequer sou um homem, senão que sou uma coisa ainda indefinida. Um erro.

Mais lágrimas, soluços. 

Visões de corpos, jovens, brancos, morenos, despidos em posições luxuriosas. Essas vêm de um lugar obscuro mas não muito escondido da minha mente. Desejos e mais desejos. Desejos que eu sei que o meu corpo não conseguiria corresponder visto que estou sempre cansado demais por um esforço que nunca fiz. 

Por fim, volto a cantar...

Eu o ressuscitarei, 
eu o ressuscitarei, 
eu o ressuscitarei, 

no dia final...

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