quarta-feira, 22 de janeiro de 2020

Rosa e cinza

Esse não é um texto sobre a vitória, ou sobre a alegria. Não é um escrito positivo, não é algo que as pessoas felizes ou iludidas de sua felicidade conseguirão compreender. Este não é nada mais do que a expressão de impressões profundas de derrotas e fracassos. Afinal, sobre quais outras experiências eu falaria? 

A música que toca baixinho no player, alguma balada romântica da Coréia cujo nome e artista não me lembro, enche o ambiente de uma aura cor de rosa, posso sentir, se fechar os olhos, o cheiro doce dos arranjos numa festa de casamento. Vejo, facilmente, os sorrisos dos apaixonados, de mãos dadas em frente aos convidados. Mas há uma parte que não foi tomada pelas cores da canção, um canto cinza no fundo do quarto. 

Mesmo que olhe as pessoas sorrindo, felizes por suas conquistas, pela aprovação na federal dos sonhos, pela criança que nasceu, pelo sucesso dos negócios... Mesmo assim eu não consigo acreditar em nenhuma das alegrias desse mundo. Para mim não passam de um engodo, algo para acender no coração dos homens a chama da esperança, apenas para lançar o homem no breu do horror da decepção. 

Não há vitória, não alegria. Há apenas uma sucessão de dores, lágrimas, sofrimentos, intercalados de breves momentos, a tomada de fôlego dos algozes de destino, que confundimos com a felicidade. Enquanto o cruel homem levanta a mão empunhando seu chicote molhado de sangue e pele arrebentada, sentimos a brisa leve que vem de algum lugar e por isso pensamos existir algo de felicidade no mundo. É um engano.

Apenas uma piscada para novamente sentirmos os golpes violentos sobre nosso corpo. Aqueles golpes que nos põem de joelhos, que nos fazem clamar pela misericórdia apenas para nos iludir uma vez mais com o respirar do carrasco.

A vida é essa prisão de onde não podemos escapar, onde apenas somos golpeados, destruídos. Onde nossos sonhos são esmagados e lançados ao abismo, onde não passamos de galhos secos, cujas cinzas voam por aí sem nenhum destino. 

É assim que me sinto, sendo levado pelo vento como pó, sem rumo e sem razão para existir. Carbonizado depois de ter o corpo destruído pelo martelo do destino em golpes suscetivos e mortais. 

Esse não é um texto sobre vitória ou alegria. Pois não há vitória ou alegria. Apenas uma derrota amarga, uma única derrota: existir. Não há miséria maior do que estar preso as leis deste mundo material, cruel, duro, cheio de pessoas com olhos frios. Não há amor. Não há positividade, senão como uma mentira, usada apenas para aumentar o desespero daqueles que se dão conta do horror que é existir. 

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