sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

Do que sinto

Eu me odeio! Sim, eu sei que é uma forma estranha de começar a escrever o que quer que seja, mas este não é um texto comum, não, é um manifesto, um manifesto a minha obscena existência. E a verdade é só uma: eu me odeio. Incontestável e indubitavelmente eu me odeio!

Mas não é um simples odiar, como se fosse algum aspecto em particular. Eu odeio tudo em mim e sobre mim, e me considero indigno de sequer olhar nos olhos de outras pessoas. 

Eu odeio meu corpo, disforme. 
Odeio meu cabelo, que nunca se comporta como quero. 
Odeio minha pele, escura e encardida. 
Odeio meu rosto, feio e que só afasta as pessoas. 
Odeio minha risada. 
Odeio minha falta de talento. 
Odeio minha falta da habilidade e capacidade. 
Odeio ser péssimo em todas as coisas que faço. 
Odeio não estar à altura dos outros. 
Odeio não conseguir cantar afinado ou sem anasalar. 
Odeio não conseguir ser bom em absolutamente nada do que faço. 
Eu odeio ter sido largado pelos meus amigos mais chegados. 
Odeio quando chegam atrasados. 
Odeio Estar só e odeio o barulho da multidão. 
Eu odeio me apaixonar por homens que nunca se importarão comigo. 
Eu odeio ser essa criatura nojenta e repulsiva que causa nos outros apenas horror e ojeriza. 
Odeio não ter objetivos na vida. 
Odeio não ser inteligente o bastante. 
Odeio não ser bonito o bastante.
Odeio não ser mais do que um desperdício de espaço.
Odeio sentir tanta fúria.
Odeio o torpor que me deixa sem reação. 
Odeio as pessoas que querem me dar ordens.
Odeio essa casa.
Odeio essa cidade. 
Eu odeio esse lugar que me sufoca e me prende nessa realidade miserável.
Eu odeio os meninos.
Odeio as meninas.
Eu odeio todo mundo.

Odeio não ser bom o bastante.

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