domingo, 5 de janeiro de 2020

De uma breve mudança

É estranho, notar como os ritmos e as vicissitudes da vida vão mudando. Recorro novamente à analogia do rio, que nunca para de fluir, constantemente mutável. Em alguns indisposto, sonolento, incapaz de sair do quarto escuro e olhar a luz do dia. Dormindo o dia inteiro, sem nenhuma perspectiva de melhora.

Em outros dias, no entanto, uma energia parece tomar conta de mim. Como se uma luz se acendesse novamente, como se uma faísca voltasse a brilhar... Então eu consigo fazer coisas, até então impensáveis. Nos últimos dias eu consegui cuidar um pouco de mim. Fiz a barba, hidratei o cabelo, cuidei da pele, voltei a ler e a estudar... Há tanto tempo eu não fazia nada disso, que já não me reconhecia mais quando me olhava no espelho. 

Hoje, quando me olhei novamente, vi um reflexo quase feliz, quase bonito. Fitei meus próprios olhos escuros por alguns instantes, e percebi que ali ainda havia uma galáxia inteira, um universo de vida que, por um átimo de segundo, brilhou. 

Foi só instante, mas foi o bastante para me deixar um pouco melhor. Mesmo com o dia preguiçoso, o sol tímido no céu, a chuva fina e constante batendo na janela e o vento agitando as folhas no quintal... Mesmo assim eu pude ver uma luz, que eu achava ter se apagado. 

Hoje vou dormir com um sorriso displicente no rosto. Ouvindo uma boa música e mais relaxado, sabendo que nem tudo está perdido, que ainda há alguma luz, no fim de tudo. As lágrimas? Acho que meu coração quer imitar a chuva que cai lá fora, enquanto eu observo a fumaça subir lentamente da xícara de chá, e meus pensamentos vão para longe... Para o lado dele. Sinto seu cheiro de almíscar, seu toque, escuto seu coração bater junto ao meu, sua mão no meu lado. Sim, é um sonho doce. A luz me fez ser capaz de voltar a sonhar... 

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