segunda-feira, 6 de janeiro de 2020

Garatuja


Eu passo uma boa parcela dos meus dias olhando as minhas redes sociais. Por algum motivo o fato de achar que estou sendo notado me fascina completando, ou ao menos tentando, uma certa quase patológica necessidade de atenção. Parece-me que se ninguém ver, não aconteceu. 

Mas essa não era bem a reflexão que queria fazer. Pois bem, vagando no meu Instagram eu constantemente vejo fotos de idols coreanos e de personalidade tailandesas. O fato de gostar de musica coreana e de assistir muitas séries tailandesas fez com que eu seguisse centenas de perfis de pessoas desses países. Diariamente eu vejo então fotos e vídeos de cantores, atores, modelos... E o que todos eles têm em comum? Todos representam um ideal de beleza inalcançável, para mim, e que eu ainda insisto em imitar. 

Vamos lá. Tenho seríssimos problemas com a minha autoestima. A maquiagem, as tatuagens, as roupas, o cabelo, a micropigmentação labial... Tudo está sempre em constante mudança porque eu estou sempre tentando me agradar de algum modo.  E nunca estou satisfeito. Eu sempre me olho no espelho e sempre detesto o que vejo. 

Não estou sendo exagerado ao dizer que realmente odeio o que vejo refletido no espelho. Nada em mim parece ser bonito, muito embora algumas pessoas digam o contrário. Na minha concepção todos estão mentindo. Eu não sou um homem bonito, mas alguém que deveria ter vergonha de sair na rua, como de fato muitas vezes tenho. 

E então eu olho para esses rapazes, mais novos do que eu, de pele clara, lábios rosados e cabelo perfeito... Não tem como não invejar. Todos perfeitos! Isso faz de mim uma pessoa patética, eu sei, mas é só mais um dos meus muitos defeitos. 

Até mesmo as pessoas que conheço, tem nelas algo de belo, algo que as torna atraentes, cada uma a seu modo. Alguns são realmente bonitos fisicamente e tudo atrai para eles os olhares, outros, têm uma bela personalidade, mas ainda assim algum traço de beleza física. Algo de estético que chama a atenção. Pode ser um sorriso, um olhar, um corpo... Qualquer coisa! 

Acontece que, por mais que tente, eu não consigo mudar o suficiente para me adequar a esse padrão, obvia e evidentemente impossível, e eu sei que deveria me aceitar como sou... Mas como fazer isso quando absolutamente tudo em você te desagrada? 

Deprimente, é a única palavra que me ocorre. E esse sentimento me faz querer fugir, mais uma vez, a única reação dos covardes. Sei que seria muito mais maduro, e quem sabe viril, da minha parte aceitar as coisas como são e tentar enxergar algo de bom na situação. Mas não, simplesmente não consigo me aceitar, estando completamente desconfortável em meu próprio corpo, fazendo da minha própria existência um peso, uma espécie de maldição, a qual fui condenado a vagar por essa terra sendo algo como uma criatura horrenda, cujo poder é o de afastar as pessoas. 

Gostaria de ao menos dar a esse texto uma forma melhor, mas ele é como eu: uma garatuja, um arremedo de algo que deveria ser perfeito. Talvez seja para ser assim, uma confissão patética de um homem miserável. Apenas um cadáver esperando o dia que finalmente joguem sobre ele um punhado de terra, escondendo para sempre a sua feiura. Nada há de mais deplorável sobre a terra. 

2 comentários:

  1. Gabriel, eu simplesmente me identifiquei com seu texto. Eu também sou uma pessoa com baixa autoestima. Não me acho bonito, e tenho vergonha de mim. Sou um cara bem fora do padrão e tem um outro agravante para mim que é a idade. Já estou na casa dos 30. E isso me deixa ainda mais deprimido pq não suporto a idéia de envelhecer. Mas eu creio que um dia farei as pazes com o espelho e aceitarei o que sou e serei feliz. Espero que você também um dia possa se sentir melhor. Sabe o que costumo fazer, muitas vezes deixo de acessar as redes sociais.Principalmente o instagram. Lá o lugar que mais me deixa pra baixo, pois vejo várias pessoas bonitas e olho para mim e sinto um nada.

    Um grande abraço para você!

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    1. Venho, aos poucos, percebendo o quão danosa pode ser essa referenciação que temos nas redes sociais. Percebo que também preciso me afastar, ao menos tomar um ponto de vista que não seja pautado no padrão que encontro lá. Afinal, é um padrão inalcançável e só quem sofre com isso somos nós não é?

      Também espero um dia reatar uma relação pacífica com o meu eu do espelho.

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