quarta-feira, 8 de janeiro de 2020

Não me bate, por favor!


Tenho o costume de terminar estranhas observações com a expressão "por favor não me bate!" e ainda não tinha me dado conta da frequência com que digo isso. Acontece que eu vejo curiosidade em muitas coisas, que não raramente passam despercebidas a maioria das pessoas. 

Gosto do solo de tuba no último movimento da Sinfonia N° 6 de Mahler, gosto do sabor agridoce da curau e angu, gosto de saber a diferença entre primer e sérum na maquiagem. Gosto de saber coisas, principalmente coisas novas que são importantes para outras pessoas e gosto, principalmente, de dizer isso aos outros. 

Mas eu me esqueço que o outro nem sempre, quase nunca, está interessado em saber. E as observações e comentários que faço geralmente se seguem a risos de desconforto e mudança de ritmos. Talvez seja eu um tolo falador ou um gênio incompreendido, mas eu não consigo, por outro lado, me contentar com as conversas das pessoas. Me entedio fácil, e imagino o quanto os entedio também. 

O que queria dizer é que deveria mudar e não dizer"por favor, não me bate!" como se pedisse desculpas por dizer algo que acho importante. Não sei, mais, o que dizer aos outros, pois sinto que sempre acabo afastando a todos com esse tipo de coisa. 

Não quero, no entanto, deixar de pensar sobre como se deu a evolução do pensamento revolucionário, ou como a mídia brasileira trabalha em peso pela desinformação em prol da guerra cultural. Quero continuar me emocionando com as árias das sopranos potentes de Wagner ou testando o último hidratante facial da RubyRose. Só quero continuar percebendo coisas que a maioria não percebe, e tendo elas como minhas conquistas pessoais, sendo um pouco mais eu do que qualquer outra coisa. 

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