terça-feira, 28 de janeiro de 2020

Caos particular


Muita força foi necessária para escrever isso. Vários minutos de frente pra tela em branco do computador. Suspiros, passadas de mão no cabelo e mais suspiros até que alguma coisa flua, o que não significa, claro, que flua da melhor maneira. Em momentos assim sacrificamos o estilo e a métrica em nome de da catarse, em nome do desejo de que dizer alguma coisa ajude algum modo a melhorar.

Bem, decidi reunir forças não sei de onde e sair para fazer as sobrancelhas, seguindo o conselho de uma desconhecida da internet para me cuidar um pouco mais e assim me sentir melhor. 

Voltei pra casa ansioso pra olhar no espelho e ver algo um pouco diferente. Mas o resultado não foi nada animador, antes disso, acho que fiquei ainda pior. Essa constatação me rendeu algumas lágrimas e então voltei a me esconder no escuro, desde então. Aliás, tenho chorado muito nós últimos dias. Assistindo filmes, jornais, me olhando no espelho que agora jaz quebrado no corredor da sala, os cacos pontiagudos cortados num ângulo legalmente sugestivo.

Os muitos produtos pra cuidados faciais estão pra vencer e eu não tenho vontade de usar nenhum deles. Maquiagens, cremes, tônicos e mascaras... Mas nem mesmo os meus remédios estou tomando ultimamente. Não faz diferença. De que adianta esticar um pouco mais essa vida miserável? 

O mundo está acabando. Vejo isso nos jornais todos os dias. A epidemia cresce em níveis astronômicos e ainda há a suspeita de que seja muito pior do que a mídia notícia. Estamos vivendo uma catástrofe. As chuvas destroem parte do nosso país, milhares de desabrigados. 

O horror. 

Eu, covarde, não consigo fazer outra coisa senão sentir medo. Não me levanto da cama, não procuro outro emprego, não lavo um copo sequer. Uma existência inútil e patética. Para quê estendê-la? Sou um nada. Um grão de areia que, por um devaneio do universo, adquiriu a capacidade de porcamente reclamar de sua própria vida. 

Prometi à alguém especial que faria um texto alegre, mas eu não consigo. Não há alegria o bastante para isso. Quando olho para dentro de meu coração tudo o que vejo é um enorme vazio, um abismo de carne que fora devorada pelos vermes.

Meu quarto está uma bagunça... Livros sobre a cama, apostilas no chão e poeira em toda parte. A casa está uma bagunça, papéis em todo lugar, objetos jogados aqui e ali. Móveis demais, coisas demais, espaço de menos. O país está uma bagunça, o mundo está uma bagunça. Entropia. Tudo está tendendo ao caos. 

O caos. Mas não um caos no mundo todo. Não, o mundo sempre passou por barbaridades e tragédias, hecatombes e cataclismos, e nunca acabou... Não, este caos é o caos que habita em mim. 

Ele que governa tudo, 
e a tudo desmorona.

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