terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

Da mente que rejeita

A mesma solidão que machuca e assusta, que oprime e sufoca, também pode ser aquela que acolhe, que faz o dia valer a pena, sendo o único momento de paz após uma longa jornada, sendo a calmaria após a intensa tempestade lá fora. Há momentos que só a solidão pode permitir que encontremos algum significado no ser, em que somente ela parece capaz de nos trazer de volta à realidade, olhando o mundo com calma e tranquilidade, como um rio solitário fluindo lentamente, em seu próprio tempo, sem pressa para chegar a lugar nenhum. 

É uma segunda triste, e eu chorei o dia todo com a chuva melancólica que caiu do céu, mas agora, meu coração se encontra em paz, uma paz sonolenta, que pouco a pouco foi devolvida ao meu coração, e que aproveito na companhia de um chocolate quente e de uma história de amor na televisão. Essas histórias são uma das poucas coisas nas quais ainda encontro prazer. A emoção que sinto ao começar uma nova história, em aguardar ansioso pelo lançamento de um novo episódio, sentindo a mesma alegria dos personagens que descobrem o amor muitas vezes inesperado... Parece uma cena simples, doce e séries de romance tailandesas, mas é para esses momentos que tenho vivido, é por causa do sorriso bobo, das músicas e declarações sinceras, que eu tenho vivido. E talvez a alegria não seja mais do que uma realização encontrada nas pequenas coisas. 

Em contraposição a essa alegria singela e doce me vem o horror do mundo que somente me faz querer mentir e fugir. Nesse exato momento há uma verdadeira legião de monstros perseguindo uns aos outros por causa de opiniões, buscando decidir qual grupo tem a melhor opinião fútil e qual deve ser destruído em nome do respeito e da justiça. Nesse exato momento pessoas procuram por mim, mas eu não sei se é querem que eu estenda a mão ou se deixe o peito livre para ser transpassado por uma espada. Talvez ambos. 

Acontece que o pessimismo tomou conta de mim de tal forma que eu já não consigo ver nada de bom no mundo ao meu redor, senão que apenas todas as coisas se mostram intrinsecamente más e que todas as pessoas, ao menos as que me cercam, estão condenadas a essa visão pequena e limitante do mundo que já não enxergam o mundo, senão que apenas veem a si mesmas e lançam essa visão no mundo. Contudo trata-se de uma visão deficiente, não conta com a tradição milenar, é apenas algo repetido por uns tantos cegados por um movimento revolucionário, humanista, materialista... E enquanto isso não acabar vai continuar sendo um festival de besteiras sem tamanho ou limite, que não enxergam uma verdade transcendente sequer nem no próprio ser mas querer enxergar algo maior em todas as relações humanas, colocando-se no lugar da própria ordem cósmica, julgando a todos do alto de uma cátedra que eles mesmos montaram para julgar o mundo e o próprio Deus com toda a sua miséria espiritual. 

Um outro aspecto que me vem chamando atenção ultimamente é a minha queda no risco dos divertimentos banais. Uma vez mais eu me vejo me distraindo com coisas tão triviais que, antes de me servirem como válvula de escape acabam se tornando um peso mais tarde. Isso porque quando damos abertura a qualquer tipo de coisa num momento como esse acabamos por nos expor, e nossa alma se torna tábula rasa de toda sorte de pensamentos errados que se possa ter. O resultado é que o divertimento se torna fonte de erros para a vida de trabalho e estudo, acabamos por jogar no lixo tudo aquilo que julgávamos ser a parte mais importante, e fazemos isso sem perceber. Muitas vezes a coisa se torna tão ruim que esses momentos tomam completamente o lugar que antes era da alma racional, se tornam a única razão de ser da pessoa, e que razão de ser baixa, aquela que se deixa mover pela potência concupiscível e nada mais.  

O fato é que eu cheguei num estágio de minha vida que me recuso a fazer muitas das coisas que antes eu me obrigava a fazer por simples medo de, com isso, não ser aceito e acabar sendo rejeitado pelos que eu amava. Mas, agora, eu já não penso em outra coisa senão a minha própria tranquilidade ao colocar a cabeça no travesseiro antes de dormir. Já não tenho coragem de me obrigar a virar a noite em rodas de conversas intermináveis sobre assunto nenhum, já não tenho coragem de me esforçar além da conta simplesmente por uma obrigação que eu inventei ter comigo e com os outros. Agora o meu descanso é minha única prioridade. É uma decisão deveras egoísta, mas eu já não me importo que pensem isso de mim também. Prefiro estar e descansado do que andando me segurando pelos cantos, caindo de exaustão, sempre à beira de um colapso. Eu quero uma vida tranquila, apenas isso, minha mente já experimentou o cansaço por tempo demais para eu ainda me obrigar a viver isso novamente. 

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