domingo, 28 de fevereiro de 2021

Por saber

Odeio me sentir apaixonado, odeio a vulnerabilidade latente que isso provoca, fazendo com que eu aceite qualquer coisa, que veja coisas onde não existem, odeio sentir que estou perdendo a razão em nome de algo que simplesmente apareceu na minha mente, odeio sentir que não sou mais do que um simples escravo de desejos, de uma carência tão profundamente arraigada no meu ser que já nem sei dizer se sou capaz de viver só. 

Queria conseguir ir mais a fundo disso, entender donde vem essa carência, essa constante necessidade do outro, entender por qual razão eu não consigo viver só, por qual motivo estou sempre procurando alguém que possa preencher o meu vazio, que possa me dar uma razão para viver, que faça valer a pena os meus dias, do acordar até o anoitecer. Eu só queria conseguir entender isso. 

E vejo nos grandes idols da internet, nos meus amigos, nos estranhos que passam na rua, e fico imaginando o tempo todo se algum deles é quem eu tanto busco, se algum deles consegue me responder ao que busco saber. Mas se ao que busco nenhum deles me responde, por qual razão eu ainda os sigo por aí, ainda que mentalmente, imaginando que as tais respostas estejam escritas de algum modo nos músculos fortes e nas mãos firmes ao tocarem o meu corpo, que eu possa entender de algum modo transmitido pelo toque de nossos lábios, pela conexão de nossos corpos?

Mas algo em mim só saber de encontrar algo no outro, um alguém perdido no tempo ou na história, alguém que consigo dar sentido ao meu ser. Essa parte em mim grita e geme numa ânsia perpétua por um amor, num adágio lamentoso que nunca termina, uma eterna busca por alguém que sequer sei que existo, mas que ainda assim faz meu ser girar completamente ao seu redor, como se dela emanasse minha força e como se minha única razão para existir fosse encontrar e me conectar com ela. 

Por isso me vejo amando, novamente apaixonado, por um amigo, um irmão, alguém que me faz sentir bem em sua presença, cujo abraço me faz esquecer esses questionamentos. E então minha carência me faz crer que ele é o escolhido, ele é quem procurei por todo esse tempo. Mas a verdade é que não é ele, e eu sei disso, mas não consigo me desvencilhar dessa verdade e, mesmo sabendo ainda sofro como se fosse verdade. E é horrível estra dividido dessa forma, sabendo a verdade mas ainda sofrendo como se não soubesse, ou talvez esteja sofrendo exatamente por saber, fazendo com que meus olhos reflitam essa confusão numa opacidade entorpecida, numa cadência deprimida que se apaixona por cada pequeno detalhe e se decepciona por detalhes menores ainda.

Eu me encanto com um sorriso, com um abraço apertado que seja, com um carinho descontraído no dorso da mão. E me entristeço quando vejo a distância no olhar, a indiferença, ou quando percebo que a mente está a vagar para longe de mim, para o lado de uma outra pessoa, uma pessoa que jamais serei, que sequer posso copiar, uma pessoa que toma de mim, mesmo sem saber, tudo aquilo que mais quero. 

E a minha sorte é essa, viver entre desumanidades e nunca amar ninguém, vivendo com o mesmo sem vontade com que rasguei o ventre de minha mãe, pegando emprestadas as palavras do poeta. Buscando em todo canto, do outro lado da plataforma do trem, em alguma janela na rua, que você esteja lá, mesmo sabendo que você nunca estaria num lugar como esse. 

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