sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021

Mais uma vez

Eu sinto que estraguei tudo mais uma vez, deixando minha guarda baixa, interpretando de morro errado as demonstrações da carinho e afeto, transformando em pétalas de rosa as frases que caíam em meu coração. Eu me esqueci dos espinhos que poderiam haver nesse jardim, e nele entrei, reclinando meu rosto sob a perspectiva do amor. Mas eu só estava me iludindo, uma vez mais. 

Todo o horror e a desesperança que diariamente sou obrigado a ver me fazem, ainda que inconscientemente, buscar o amor, mesmo que consciente e racionalmente eu saiba que isso não existe em lugar algum, tampouco donde sequer me veio uma promessa, mas que no meu íntimo ela se apresentou, como um momento de suspensão de toda dor. Mas não era verdade, tudo o que estava fazendo era me deixando iludir, pouco a pouco é verdade, mas ainda assim me deixei levar, e só percebi quando estava com ciúmes, quando me vi pensando nele de forma que não devia, como já fiz tantas e tantas vezes. 

E torno a me odiar por ser assim, tão fraco, tão passível de ser iludido por mim mesmo, por ainda acreditar, de algum modo, que possa existir amor e felicidade nesse mundo. Não Gabriel, estas coisas não existem senão na nossa mente, em mentes distorcidas incapazes de enxergar a realidade. A realidade é apenas fria e empoeirada, ela não nos dá companhia, senão que apenas nos mostra, dia após dia, que os homens nunca serão capazes de se entender, que as pessoas não podem se amar, antes disso, apenas podem viver sob um acordo não declarado de busca conjunta por prazer e algo de proteção que os impeça de sentir o absoluto terror que há nos recessos da mente, no recanto mais obscuro de nossas consciências.

O ser humano é um animal triste e sozinho, e toda sua vida consiste em criar formas de tentar amenizar e esquecer que essa é sua verdade primordial, essa é a razão que permite o homem ser, e é essa a realidade que assusta o homem desde seu primeiro pensamento. 

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