quarta-feira, 10 de março de 2021

Dessas coisas

Parece que o felizardo vencedor da roda da fortuna nessa semana aqui em casa fui eu. Depois que os meus pais começaram a se recuperar eu passei a sentir as primícias dos sintomas, os mesmos já tão habituados da gripe típica dessa época do ano. Afora a febre do vírus que faz as pessoas se esquecerem que existem outras doenças e absolutamente tudo é sinal de coronavírus eu estou bem, não é a primeira e decerto não será a última gripe do professor que ora vos fala. 

Desde ontem comecei a sentir uma pequena pontada na cabeça, fina e contínua, lá no finalzinho. Hoje já amanheci com algumas dores pelo corpo e uma dor  de cabeça bem mais presente. A dor foi aumentando gradativamente ao longo do dia, deixando meus membros um pouco mais pesados e vários pontos, como costas e músculos dos braços, já bastante doloridos. Uma vontade de ficar deitado se apossou de mim, o que é bem estranho de se notar visto que a depressão já faz isso por mim normalmente. Um desconforto geral apertando a garganta e me impedindo de dormir, embora ao mesmo tempo me impeça de fazer qualquer coisa. A despeito disso ainda consegui assistir duas aulas com excelente rendimento. Doente sim, burro nunca!

A preocupação, mais dos outros que minha mesmo, me fez decidir ficar em casa alguns dias, fazendo a difícil escolha de me abster da igreja, o que certamente vai resultar em resultados péssimos, sempre acaba acontecendo algo errado quando eu falto e dessa vez não vai ser diferente. 

Só espero ainda ter forças para terminar de acompanhar os lançamentos BL dessa semana, podendo ficar dormindo durante o dia e só disposto por algumas horas à noite, não é um negócio ruim, espero que o charme da minha dopada candura colabore. 

A dor, física, é um momento particularmente especial para se refletir acerca da presença física do ser. Quem nunca percebeu da falta que faz uma respiração decente quando o nariz fica entupido? O mesmo se dá numa gripe, quando o corpo todo protesta contra uma coisa tão pequena dentro de nós que parece até que está combatendo a si mesmo, querendo se desfazer nos suores de uma forte febre. Mas é só a natureza fazendo seu estranho trabalho de combater uma infecção aumentando a temperatura do corpo ainda que isso também mate o corpo, a vida tem dessas coisas.  

X

As dores pioraram ainda mais hoje, após uma noite conturbada entre febres e delírios, acordado de hora em hora incomodado pelo frio ou calor repentinos. O resultado é uma fadiga crescente que, no entanto, não pode ser contida dormindo, visto que o incômodo nas articulações e músculos não me permitem relaxar de modo algum. 

A sensação geral é a de que meus ossos estão sendo arrancados de mim, e que a minha carne está sendo rasgada por archotes em chamas. É uma agonia crescente, bem como uma sensação de tédio que não diminui de modo algum, aumentando ainda mais a saudade de quando estava tudo bem, mesmo que eu saiba que já faz tanto tempo que nada está bem, apenas força de expressão. 

Os chás, unguentos e caldos já me enchem também, tudo muito quente e temperado, com o mesmo cheiro enjoativo daquelas comidas de hospital, já que minha família debita toda e qualquer doença na conta da fraqueza por não comer direito, coisa que eu realmente não faço. A minha única vontade é de dormir e acordar novamente daqui uns cinco dias, quando as dores já começarem a diminuir e eu pare de andar como quem acabou de ter um filho ou passou por um cirurgia complicadíssima que pode se abrir a qualquer momento. Frescura. 

Percebi hoje o quanto aquela crença geral de que mulheres são mais fortes está coberta de razão: minha mãe doente ainda se esforça ao máximo para fazer as coisas, ela mesmo sem nenhuma disposição ainda cozinha, lava e passa, até nos piores dias. Eu, no segundo dia, já estou levantando as mãos pro céu pedindo misericórdia. Resistência zero, uma vergonha. 

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