quarta-feira, 3 de março de 2021

Nada mudou

Tenho lutado contra algo dentro de mim. Já há alguns dias eu sou assolado por pensamentos ruins, daqueles que me fazem querer desejar o fim. Pensar na morte é, para a maior parte das pessoas, algo temeroso, mas eu penso nela como algo libertador, penso nela como algo capaz de me livrar das coisas horrendas que eu sou obrigado a ver diariamente, como se ela fosse a rainha com poder de executar os meus algozes, que me maltratam com uma miséria moral e espiritual sem tamanho. A depressão veio mais forte do que eu esperava sem os remédios.

Mas pensar na morte dessa forma é renegar o dom da vida, algo que deveria ser o bem mais precioso de todos os homens. Acontece que eu não consigo de forma alguma ver a vida desse modo, antes disso, eu a vejo como um eterno suplício, dias e dias de sofrimento, dor, incompreensão, desespero e falta de amor, intercalados por brevíssimos momentos de luz, que me dão alguma nota de esperança, apenas para me fazer mergulhar novamente no oceano de horrores que é enfrentar a realidade. 

Estou paralisado, em cima de uma cama, sem forças sequer para sorrir ou responder em voz alta quando me perguntam. Meu coração foi tomado de ervas daninhas que sugaram todas as minhas forças, e elas não floresceram, antes disso, tornaram meu peito um pântano onde nada de belo pode nascer. 

Muitos são os meus desejos, ficar famoso escrevendo, conseguir cantar bem uma missa, ou apenas aproveitar bons momentos com meus amigos. Mas para nada disso me restam forças. Eu sequer consigo compartilhar as coisas que escrevo, sendo que já isso me consome uma enorme quantidade de energia. E tudo me causa desânimo, tudo me faz querer desistir, mas desistir do que, se eu nada possuo, se eu nada realizei? Desistir do simples respirar pela manhã ao abrir os olhos, desistir do ser, retornar ao nada, de volta à inexistência. É isso que sinto. 

A lâmina guardada com esmero me chama, com voz de sibila, tentando me convencer que isso é resultado de um veneno que circula em meu sangue, e que fazer esse sangue se derramar pode dar fim a isso. E imagens do meu sangue escorrendo pelos meus braços e formando pequeninas poças pelo chão tomam a minha mente, como se de repente eu passasse a ver o mundo por uma lente carmesim. 

Sinto uma vez mais a tentação de pôr fim a minha vida ou, ao menos, substituir a dor da minha alma pela dor dos cortes no meu corpo, mas até para isso me falta a força necessária para erguer a lâmina e desferir um golpe certeiro. Tudo o que consigo fazer é olhar o teto, olhos distantes, e imaginar uma realidade tão distinta desta que me perco em meus próprios sonhos, até adormecer, e ter a infelicidade de acordar uma vez mais, e ver que nada mudou. 

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