sábado, 20 de março de 2021

Interesse

Interesse. É algo que faz com que as pessoas tenham certa força de vontade para realizar, ou não, alguma coisa. O grau de interesse define o comprometimento com a causa, quem se interessa não poupa esforços para realizar o que se propõe. 

Vejo, não sem grande tristeza, que isso faz com que ainda dessa forma o interesse de um não seja suficiente para realizar bem algo que exige o comprometimento de muitos. Quando apenas um se interessa, quando apenas um está comprometido, a coisa não funciona. 

Digo isso em relação as atividades da paróquia. As pessoas parecem simplesmente não ter o mínimo interesse nisso, ao mesmo tempo que querem cobrar que tudo dê certo, que tudo esteja bem e organizado, mas o grau de comprometimento delas não permite que estudem, que se preparem, que façam parte. As coisas ficam então jogadas, como se não tivesse importância alguma. Mas a verdade é que ela continua sendo a coisa mais importante, ainda que ninguém se importe. 

É triste ver que as pessoas ignoram algo tão grandioso como se não fosse nada, como se fosse apenas algo bobo e corriqueiro. É triste ver que a divindade fica escondida por detrás de um vontade pífia, de uma coragem mínima, de um eu que é maior que o próprio Deus. 

Interesse. O único interesse das pessoas é fazer aquilo que lhes é mais agradável, e não o que é certo, e não é preciso ser feito. 

X

Outro aspecto da existência é a forma brutal com que a vida nos faz acostumar com a mediocridade da nossa vida. É quando somos obrigados a acordar cedo pela manhã, olhar ao nosso redor, ver o mundo se despedaçando, e ainda ter de viver normalmente, como se toda a miséria humana que nos cerca fosse tudo o que podemos esperar do mundo. 

O feio, o injusto, o improvisado, a falta de grandeza, de beleza, tudo que mostra o que de pior há no homem deve ser encarado como se fosse normal. E isso me enoja, me irrita, eu tenho pavor de ser homem, tenho horror de ter nascido para ser obrigado a viver desse jeito. Tenho horror dessa mediocridade, tenho horror do que poderia ter sido, do que deveria ser e não é. A potencialidade me enoja. O homem me enoja. A falta de compromisso me enoja. 

X

Eis que de repente o ser é tomado daquela súbita desesperança, daquela vontade de não falar com ninguém, de não responder ninguém. Confrontado com os próprios valores. De que adianta o esforço de acordar cedo toda manhã? De que adianta estudar sem entender, e ainda que entendesse, que resultado isso daria? De que adianta escrever sem ninguém lê, se isso aqui não vale absolutamente nada? De que adianta tudo isso?

É aquela depressão novamente, como uma onda silenciosa porém poderosa como um tsunami, que destrói e leva tudo por onde quer que passe. É de novo aquele vazio, aquela vontade de dormir a não voltar a acordar. Aquela sensação de absoluta falta de propósito, de uma escuridão na alma, um abismo total no lugar da essência. 

E eu só queria ser como os outros. Ter força suficiente para viver um dia inteiro, sem cair, sem desejar a todo momento me desmontar sobre a cama, sem desejar que nada aconteça para que eu não precise me mexer. Eu só queria não sentir esse vazio todo o tempo, não sentir que nada vale a pena, não sentir que tudo, desde respirar até comer é uma grande perda de tempo e um esforço vazio e completamente sem sentido. Eu só queria viver como se cada dia fosse uma dádiva e não uma condenação, e não uma tortura sem fim, eu só queria viver sem desejar que a morte esteja me esperando em cada esquina, amaldiçoando cada despertar, cada novo respirar... Eu só queria viver. 

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