quinta-feira, 4 de março de 2021

Vento e mar

Os últimos dias têm sido particularmente difíceis. Tenho experimentado uma estranha combinação que, no entanto, não é nova mas ainda causa grandes estragos em mim. É um amálgama de tesão ocasionado por hormônios descontrolados desde que parei de tomar os remédios do psiquiatra, bem como uma crise depressiva devastadora. E é estranho sentir essas forças conflitantes dentro de mim, uma delas me forçando a completa apatia, enquanto a outra se comporta como uma fera sedenta, com todos os adjetivos que isso possa implicar. 

Me tornei apenas um campo de batalha, e não consigo reagir contra nenhuma dessas forças, estou passivo observando essa tempestade, mar e vento, brigando entre si pelo controle do meu ser. 

Sinto, por várias vezes, que estou prestes a enlouquecer, quando o desejo se torna forte demais para controlar, ou quando não consigo sequer lavar o rosto ou me olhar no espelho sem enxergar um monstro, muitas vezes completamente despersonalizado, sem reconhecer o que sinto, penso ou faço. 

Já não sei mais quem eu sou ou o que estou fazendo da minha vida, tem dias que eu quero estudar, voltar a dar aulas, e tem dias que eu só quero desaparecer, voltar ao nada. Quem sou eu? O que eu devo fazer nessa vida? Onde está o sentido? Para onde me levarão essas forças conflitantes? O que eu deveria fazer? 

Ao mesmo tempo que eu gostaria de poder dizer isso a alguém, além de apenas escrever aqui, eu acho que seria melhor se nem mesmo escrevesse. Ninguém entende, não é possível que entendam esse ímpeto demoníaco que está prestes a se romper, e quantas vezes já não interpretaram errado o que disse? Apenas serviria de mais confusão. Mesmo eu querendo dizer a ele o que sinto, mas sem saber realmente o que sinto, se é amor ou apenas uma desejo monstruoso. Eu não quero ser um monstro. Também não quero ser esse ser homem sem forma largado na chuva, chafurdando na lama. 

E me sinto sozinho. Todos os dias, desde o momento em que acordo até o anoitecer, como se mesmo numa casa cheia eu ainda estivesse jogado num deserto sem ninguém, sem saber para onde devo ir. Me tornei apenas uma confluência de confusões que já não consigo mais rastrear a origem e que apenas me dão uma sensação geral de que estou completa e absolutamente perdido, sem saber o que fazer da vida, sem razão alguma para continuar vivendo, apenas como um desperdício de espaço. Para que serve uma pessoa que não faz nada? Não há razão para minha existência, eu sou um erro. Minha vida é um livro fechado que não admite que eu escreva nada nele. E eu sequer saberia o que escrever pois nem mesmo sei quem sou... Eu já não sei mais nada. 

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