terça-feira, 4 de outubro de 2022

Emoções humanas


"No Brasil há uma espécie de culto das emoções – todo mundo tem que viver com as emoções à flor da pele para ser considerado humano." 
(Olavo de Carvalho - COF, aula 38)

 É dia de eleição e não posso me furtar ao sentimento geral que domina e inflama os ânimos dos partidários de um candidato e de outro. Mas, a despeito das diferenças históricas de cada movimento por eles representados, os discursos são exatamente os mesmos: discutem e apontam os erros de cada um como se o objetivo fosse cada um escolher o seu malvado favorito.

Ambos se acusam de depravações morais, roubo, e tantas outras classificações criminais e vexatórias. Não há discurso e nem debate político, que seria essencialmente retórico e até dialético um processo intelectual mais elevado. Mas todas as discussões dizem respeito a ações pontuais que aumentam cada vez mais o poder do estado em interferir em situações mínimas e pessoais, como a lei daqui de Joiville que proíbe o uso de som sem fone nos ônibus. Já é razoável que não se faça isso, que deveria ser resolvido com uma conversa ou um tapa na orelha. O estado não deveria ter todo esse poder. 

E então nessa discussão de pequenas ações vão aumentando mais e mais o estado. O processo é todo complicado, com muitas brechas para decisões arbitrárias de modo a serem aprovadas propostas apenas com base no discurso afetado dos candidatos. O resultado é que todos reagem emocionalmente a tudo que é dito. Palavras como "democracia, direitos, igualdade" elas despertam uma reação emocional e, com base nela as pessoas não passam desse discurso poético, simbólico e passa a ser discutido de modo a imitar um discurso retórico. Falam usando as palavras do discurso poético com a clave interpretativa do retórico. O resultado é um raciocínio metonímico, vazio, que convence por agradar ou causar repulsa no eleitor. É apenas um teatro de loucos. A prova mais visível é a repetição dos jargões, a busca pela aceitação num grupo.

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Como não vou votar eu vou me concentrar em descansar, são apenas dois dias de tranquilidade. Tenho estado melancólico e silencioso em casa. Como disse antes não exigem de mim mais do que um emprego e e um espírito sem nenhumas aspiração superior. 

Me peguei andando sozinho  e pensando em como seria bom poder chegar em casa, depois de um dia cheio, apoiar a cabeça no peito de um amado, e ali sentir o seu calor que, misturado ao meu calor, se  tornem um só. E ali ficar, por tanto tempo, ouvindo músicas partilhando confissões baixinhas. 

Não vou me levantar para votar, seria perda de tempo, não vejo um cenário onde algo possa melhorar. Seja direita ou esquerda o que vai continuar imperando na cultura é a completa psicose. Discussões que em nada tomam as devidas proporções. E isso é outra coisa absurda, Como todo aceitam apenas a reação emocional automática partem pra opção contrária. E cá estamos. Eleições. Mas não creio no poder do presidente porque é o presidente do grêmio estudantil que acaba com a mentalidade do jovem que chega sem preparação, que passa a ser um militante da causa mas sem se aprofundar em nada, porque como o discurso é bonito e convincente é porque deve ser verdade. Meu sentimento principal é uma profunda e melancólica desesperança. Embora o céu esteja claro as nuvens de chuva já se aproximam e o céu continuará chorando. 

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"Preparem-se. Nos próximos anos a desordem do mundo atingirá o patamar da alucinação permanente e por toda parte a mentira e a insanidade reinarão sem freios. Não digo isso em função de nenhuma profecia, mas porque estudei os planos dos três impérios globais e sei que nenhum deles tem o mais mínimo respeito pela estrutura da realidade. Cada um está possuído pelo que Eric Voegelin chamava "fé metastática", a crença louca numa súbita transformação salvadora que libertará a humanidade de tudo o que constitui a lógica mesma da condição terrestre. Na guerra ou na paz, disputando até à morte ou conciliando-se num acordo macabro, cada um prometerá o impossível e estreitará cada vez mais a margem do possível. A Igreja Católica é a única força que poderia, no meio disso, restaurar o mínimo de equilíbrio e sanidade, mas, conduzida por prelados insanos, vendidos e traidores, parece mais empenhada em render-se ao espírito do caos e fazer boa figura ante os timoneiros do desastre. No entanto, no fundo da confusão muitas almas serão miraculosamente despertadas para a visão da ordem profunda e abrangente que continua reinando, ignorada do mundo. 

Muitas consciências despertarão para o fato de que o cenário histórico não tem em si seu próprio princípio ordenador e só faz sentido quando visto na escala da infinitude, do céu e do inferno. Essas criaturas sentirão nascer dentro de si a força ignorada de uma fé sobre-humana e nada as atemorizará.

(Olavo de Carvalho, 25/09/13)

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Não me lembro de ter escrito aquelas palavras, mas elas estavam lá quando eu acordei, o que significa que eu pensava naquilo com força suficiente pra digitar mesmo estando fora de mim. Não é a primeira vez que alguém toma zolpidem e faz alguma besteira mas, no meu caso, significa que o que eu disse era verdade, uma verdade inconveniente que, embora eu diga em voz alta sempre, dessa vez se mostrou tão verdadeira justamente por ter sido dita num momento de total vulnerabilidade, sem a intenção de soar como uma brincadeira despretensiosa. Ela saiu então da maneira mais verdadeira possível, e isso me incomodou. Primeiro porque eu não queria me expor desse jeito e, segundo, porque eu não queria receber uma resposta displicente como aquela, que feriu meu orgulho, algo que eu nem sabia que ainda tinha, me deixado abatido por perceber que mais uma vez eu fui rejeitado. Sonhei que estava deitado ao lado dele, mas logo acordei e vi que estava sozinho na cama, de novo. 

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