domingo, 9 de outubro de 2022

Sobre a aparência e duas breves paixões

Continuando a minha breve, ou talvez não tão breve, investigação sobre minha relação com minha aparência eu me vi fazendo um julgamento completamente injusto contra mim. Gosto de usar roupas femininas, batas e vestidos fazem parte do meu guarda-roupas, assim como perfumes doces e unhas coloridas, eu gosto assim e não ligo pro que acham disso. Por outro lado eu parei para assistir o MV do Nunew de True Love, parte da OST de To Sir, With Love, lakorn com temática BL, e nele o cantor aparece usado uma bela blusa que, nele, achei extremamente elegante, como tudo que ele usa. No entanto, no momento em que pensei em usar uma parecida, eu senti uma repulsa imediata, não pelo fato de ser uma roupa feminina, mas que isso transposto para o meu corpo maior e disforme do que o dele deixou um resultado horrível. E então eu mais uma vez me deprimi por isso, e fiquei um bom tempo vendo o vídeo e as fotos, e pensando em como ele estava perfeito naquela composição, elegantemente combinando com a estética de época da série, e não consegui deixar de pensar em como isso é injusto. Que ele seja tão lindo e tão pleno em todas as aparições e que eu apenas... Bem, e que eu apenas seja eu. Há bastante inveja nessas linhas, não que seja preciso dizer isso, mas eu infelizmente não consigo não me odiar ao ver minha imagem, e ver como meu esforço é vão, em como me preocupo com algo tão banal assim. Eu sei que injustiça não cabe aqui, e que é uma leitura totalmente errada que eu faço assim, mas me refiro justamente a essa reação automática que eu tenho, que revela o quão profundo esse pensamento autodepreciativo está impregnado. É simplesmente preciso que eu me olhe no espelho para começar a ver defeitos e o que mais me irrita nem é ver esses defeitos mas dar tanta atenção a eles sendo que eu sei bem de coisas mais importantes com que me preocupar. Isso tem embotado meu pensamento e me distraído do meu dever intelectual, essa perspectiva vem gritando na minha mente que eu estou perdendo tempo, mas ao mesmo tempo isso continua me deprimindo e isso só faz eu me odiar ainda mais. 

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Viemos sentados um de frente para o outro no ônibus que estava um pouco menos cheio que o normal. Acho que ele vai pro trabalho de meio período e depois pra faculdade porque em alguns dias usa um crachá, mas nunca consegui ver o nome que está escrito. Levantei o olhar do meu livro para ver o seu rosto algumas vezes durante a viagem, ele com a cabeça encostada na janela, os olhos castanhos brilhando sob a luz do sol da manhã, era um brilho intenso, quase acobreado, e isso com o cabelo fino e claro deu a ele um visual um pouco angélico, quase etéreo com sua pele clara, marcas vermelhas de acne perto do cabelo. No ponto de ônibus ele tirou a máscara por alguns instantes, e lembro que antes de hoje só o vi sem máscara uma vez, sendo que sempre que o vejo, no ônibus ou na igreja ele está com o rosto coberto. Me pergunto por insegurança sanitária ou baixa autoestima. Há alguns dias ouvi ele conversando com uma amiga, e me pareceu uma pessoa simples, quieta, despretensiosa e muito discreta, o que só me deixou ainda mais curioso sobre ele, seu nome, seus gostos e, quem sabe, seus desejos secretos escondidos por trás daqueles olhos luminosos e distantes. Talvez eu nunca puxe assunto, fique sempre vendo-o de túnica branca na missa ou com a camiseta roxa na parada, até que dia de repente não o veja mais, sem nem ao menos saber seu nome. Mas o que mudaria se eu soubesse?

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Será que eu deveria dizer a ele? Bem, desde que eu saí daquele trabalho eu nunca mais o vi. Conversamos uma ou duas vezes por mensagem mas nada fluiu, nunca passamos das amenidades casuais, nunca consegui criar o mínimo de intimidade. E eu bem tentei, mas parece que não somos compatíveis. Embora eu seja uma pessoa do espectro negativo, digamos assim, eu não sou exatamente introvertido, me comunico bem, mas não consigo vencer a introversão dele, e nem sequer sei se as coisas são assim porque ele quer que sejam assim ou porque também não consegue vencer a própria limitação. E de todo modo isso nem importa, afinal eu agora estou do outro lado do país e a chance de voltar a vê-lo algum dia é praticamente nula... Então não faz nem sentido que eu diga a ele o que sinto, até porque também nem eu sei do que se trata direito, apenas sei que é uma afeição grande, um carinho imenso. Mas não teria nenhum efeito, a não ser fazer ele se afastar ainda mais e, até quem sabe, nunca mais nem falar comigo. Talvez o silêncio seja realmente melhor nesse caso. Palavras na verdade não conseguem alcançar corações. Quando eu digo "eu te amo" ainda que seja com a mais sincera das intenções, não significa que ele vai sentir o mesmo. 

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