Vou passar a vida inteira
Esperando por você
(Torquato Neto)
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Estou caindo de sono, me disseram que pareço estar estressado, mas é, na verdade, cansaço acumulado, e não mau-humor gratuito. Ainda tenho um longo dia pela frente, em que vou precisar apresentar o projeto de uma nova exposição, até que consiga voltar para casa e, quem o sabe, relaxar tomando alguma coisa quente e vendo o novo episódio de I Saw You In My Dream. É só o que eu preciso, sinceramente. Mas de repente me pediram para detalhar as obras da exposição, então precisei do acesso ao acervo, depois precisei ajudar um curador a terminar a montagem de outra exposição, e aí fui ajudar minhas colegas a fazer a expografia da nossa própria exposição, daí quando voltei para minha sala a assessoria de imprensa tinha me solicitado várias informações, enviei, e então lembrei que meu chefe tinha pedido também outras informações, e quando fui enviar também chegaram vários visitantes e eu, já sem entender muita coisa, fui de cara feia atender, o que certamente vai ser interpretado como grosseria, claro, sem levar em consideração tudo que eu tinha passado até então.
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Foi com muito custo que cheguei em casa ontem, a mente em parafuso atormentada com tantos pensamentos, com a quantidade de informações que fui obrigado a processar. Claro que, mesmo com remédios, quando pude finalmente deitar e me concentrar no escuro aconchegante, na música familiar que tornava o ambiente o mais confortável possível, ainda assim demorei conseguir silenciar minha mente para mergulhar no sono profundo. Adormeci ao som de uma combinação de algumas faixas aleatórias, entre elas Keen Suvijak, Cigarretes After Sex e Jeff Satur que, aparecendo mais de uma vez, me surpreendeu quando acordei algumas horas depois ainda a tempo de ouvir o início de Why Don't You Stay, e mesmo ainda meio adormecido meus lábios se moviam lentamente, impossível que meu espírito fique indiferente a essa obra. Sempre um deleite para a alma.
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Ontem precisei buscar ainda mais forças para conseguir terminar o dia. Além das demandas do trabalho, com as pessoas me cobrando coisas em cima porque parece que ninguém consegue se preparar com mais antecedência. Ainda tinha um ensaio para ir à noite e, só então eu pude voltar para casa e assistir um episódio de Monster Next Door, que tem sido um dos poucos momentos confortáveis na minha semana, até que finalmente pudesse esquecer de tudo e me concentrar apenas naquilo. Concentrar num pouco de algo melhor do que essa realidade.
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Foi uma semana difícil.
Levado ao extremo do cansaço.
Exausto.
Na sexta eu já estava me mantendo de pé com energéticos e aquelas capsulas de cafeína e taurina, sem contar doses altas de café. Ainda assim, no meio da tarde de sábado, vendo aquelas pessoas todas ao meu redor e sabendo que ainda tinha várias horas pela frente, eu encostei a cabeça na porta do acervo, e ali de pé eu dormi por instantes, o corpo já não respondendo, a mente já não respondendo. Sempre sou levado ao limite assim. No outro extremo da cidade, os meninos bonitos se reuniram para jogar durante um dia inteiro. Deve ter sido divertido, imagino. Para eles, é claro. Eu preciso cantar na missa hoje a noite, mas nem me lembro das músicas e, pelo estado do meu sistema respiratório, não terei muita força para isso não.
A pior parte foi ficar longe de você, sabia? Sem poder te dar atenção, distante demais para cuidar de você quando ficou doente. Eu só queria poder largar tudo num dia desse e cuidar de você. Não lidamos bem as saudades. Percebeu isso também? Eu sentia sua falta, mas estava cansado demais para qualquer coisa. Mas, pensar em você, brevemente, ainda me fazia feliz. Porque no meio desse caos, você ainda é parte mais bela da minha vida. Você é a única parte da minha vida que ainda amo.
Depois do cansaço, meu corpo só queria o sono
profundo.
Meu coração só queria poder,
num abraço,
ouvir o seu junto ao meu.
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Ainda em temas relacionados, para finalizar esse texto escrito em pequenos trechos por vários dias, reflexo desse cansaço que não me permite aprofundar mais... Nietzsche foi muito prejudicado em sua escrita pelas dores intensas de sua sífilis. Meu cansaço, meus dias cheios, o volume esmagador de mensagens, a incompreensão, essas são a minha sífilis, minha doença até a morte, o desespero humano.
Mas, como comentei, em meio a loucura, ainda havia um pensamento que volta e meia aparecia: a sua imagem. Mas não é sobre isso que quero falar.
No domingo eu vi aquele que me atraiu por vários meses, ao lado da namorada. Ainda o acho lindo mas,
na saída,
saí sem falar com ele.
Nunca foi amor.
Finalmente, no momento de descanso eu pude ficar um tempo sem fazer nada, o que eu amo, e então alguns detalhes de duas obras me chamaram a atenção nessa manhã fria de segunda. A primeira delas foi no episódio especial de Love Sea (com Fort Thitipong e Peat Wasuthorn, ambos de Love In The Air). A forma como antes Tongrak (Peat) repudiava o amor se entregando ao prazer simples e sem compromisso, ainda que com o mesmo homem por várias semanas, a ponto de literalmente comprá-lo para que estivesse sempre a sua disposição. Esse quadro evoluiu para um personagem apaixonado, e que confessa isso, e que simplesmente não fica mais longe do seu amado. Sendo carinhoso e já criando tradições e momentos próprios dos dois, como fazer um mergulho no mar sempre que retorna a ilha de Mahasamut como um modo de dizer "eu estou de volta, não a uma ilha qualquer, mas ao meu lar, porque meu lar é onde Mut está."
E então, depois de vários meses, tivemos o lançamento internacional do filme dos ZeeNunew "After Sundow." A história gira ao redor de um rapaz que cresceu num templo cuidado por seu tio, e é levado para a casa de um conhecido da família. Lá ele descobre que precisará passar por um ritual de ligação de destinos, em outras palavras um casamento budista/xamanista, para evirar que o outro rapaz tenha problemas graves no futuro que foram previstos anos antes. Muito embora o relacionamento deles comece conflituoso, pouco a pouco eles vão se entendendo, e recordando que já tiveram momentos juntos na infância e que não se lembravam disso. Daí em diante eles passam a cuidar um do outro, enquanto uma entidade sobrenatural, relacionada ao passado da família, retorna cheia de rancor para se vingar.
O ponto que me chamou atenção foi justamente o cuidado de ambos com o outro nos momentos de tensão que, em meio a atmosfera de terror sobrenatural e romance histórico, deu ao filme um ar intimista, onde o companheirismo, o perdão, foi capaz de vencer a força esmagadora do rancor. O filme tem grandes pontos altos: a atuação de Zee e Nunew (Cutie Pie) impecável pela química de ambos (afinal são vários anos trabalhando juntos), uma fotografia belíssima em ambientes agradaveis, cenas delicadas e simples, poéticas, misturando a beleza, uma história diferente das que estamos habituados em BL que, muitas vezes pareceu que iria terminar de modo trágico, mas que ensinou o poder redentor do perdão e do amor verdadeiro.
O que quero dizer com tudo isso? Uma casa é onde tem alguém nos esperando lá, como disse o mestre Jiraya em Naruto, lição que o protagonista aprendeu ao ser recepcionado pela Aldeia Oculta da Folha após a grande luta contra Pain/Nagato.
Uma casa é onde tem alguém nos esperando lá. O amor pode justamente ser o definidor dessa casa. Quem nos ama se torna nosso lar. Assim como eu desejo ser um lar para aqueles que amo. Em meio a confusão das últimas semanas um lar para repousar tem sido meu desejo. Como na música "ter uma casinha branca, de varanda, um quintal e uma janela, pra ver o sol nascer..."
Momentos assim, alimento para a alma. Vou dormir agora com o coração quente, como estava quente no último sábado, depois que assisti a Cantata do Café de J.S. Bach na Harmonia Lyra durante a 4° edição do Festival de Ópera de Joinville. Mesmo não tomando café nesse momento, mentalizar o aroma energizante dele me deixa quentinho uma vez mais, como ficaria se pudesse abraçar aquele que amo.
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"Devo estar envelhecendo para começar a soma das compensações. Mas a alegria de sair em silêncio para visitar um amigo. De amar ou deixar de amar sem nenhum medo, nunca mais o medo de empobrecer, de me perder, já estou perdido!" (Lygia Fagundes Telles)
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