quinta-feira, 29 de agosto de 2024

Fontes

"A gente não conhece a própria desgraça, e nunca se é tão feliz quanto se pensa." (Marcel Proust)

Gosto da beleza silenciosa de dias assim, nublados, sem muito barulho, podendo sentir o perfume de um chá ou fechar os olhos ouvindo uma música que gosto. Acabei de ouvir, por exemplo, Who Am I do Bright, Win, Nani e Dew e, uma das faixas que tem estado entre minhas favoritas, Louder, do meu pequeno Keen Suvijak e, além disso, a doce voz do Nunew em True Love, uma das mais lindas da carreira dele, com aquela aura de romance histórico, ingênuo, verdadeiro, tranquilo...

Como uma pequena flor que encanta pela delicadeza de suas pétalas e de seu cheiro, me atraio por essas coisas singelas, esses símbolos. Como também uma cristalina fonte, aquela vívida imagem do Cântico dos Cânticos, tão cara e que produziu tantas letras belíssimas pelas mãos dos carmelitas, sobre a beleza do amor em suas diversas formas, sobre como só podemos encontrar esse amor verdadeiro na união íntima, naquela relação que não mais é possível diferenciar um do outro. 

Como é belo isso!

Mas então olho pela janela e penso no frio que faz lá fora, e no quão gelada deveria ser a fonte real. É esse o problema do amor: na poesia é muito belo, na vida real ele não acontece, corações não se tocam. Não adianta dizer o quanto se ama se, no fim do dia, o coração não bate mais rápido. Talvez seja idealismo meu, admito, mas meu coração precisa se inflamar, meu coração precisa sentir algo e... Bem, eu sinto que hoje, não sou amado. 

Nada se inflama. 

Nada se ama. 

Nada se ama?

Mas o que é isso que sinto? 

Esse vazio, 
não seria então vazio de amor, 
o próprio amor, 
a ânsia de amar, 
o desejo de ser amado?

O que é esse vazio?

Sinto como se essas flores, delicadas e perfumadas, tivessem tornado-se venenosas depois de tanto conviverem comigo. Agora seu veneno se volta contra mim. A fonte cristalina não verte mais água fresca, verte a minha própria morte a escorrer lentamente. 

Sinto como se houvesse linhas invisíveis passando por nós. 180° de longitude. Uma barreira que não queremos ultrapassar. Bem, infelizmente as coisas são assim. Ou talvez seja só coisa da minha cabeça. Não sou tão importante assim a ponto de ser um problema desses pra alguém. No fundo acho que ninguém é tão importante assim. Estamos todos ocupados. Relatórios, prazos, boletos... Estamos ocupados demais pra amar. No fim, a fonte cristalina do amor é apenas água fria, gelada. 

"Sentia muito próximo de seu coração aquele Maomé II, cujo retrato por Bellini tanto apreciava e que, sentindo que se apaixonara loucamente por uma se suas mulheres, apunhalou-a, a fim, diz ingenuamente o seu biógrafo, de recuperar a sua liberdade de espírito." (Marcel Proust)

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